
OIT alerta que pandemia pode eliminar avanços em igualdade de gênero
Trabalho e Emprego
Agência da ONU vê um agravamento maior que o esperado no mercado de trabalho no segundo trimestre. Mulheres, especialmente nas Américas, estão sendo mais afetadas pela crise.
A Organização Internacional do Trabalho – OIT, agência das Nações Unidas, alertou que as consequências econômicas da pandemia do novo coronavírus podem eliminar os avanços conquistados pelas mulheres nas últimas décadas.
Na quinta edição do relatório “Covid-19 e o mundo do trabalho”, a OIT afirma que, desde o início da pandemia, a queda no número de horas trabalhadas foi pior do que o estimado anteriormente. No segundo trimestre, houve tombo de 14%, o que equivale à perda de 400 milhões de empregos. No relatório anterior, de 27 de maio, a estimativa era de queda de 10,7%, ou 305 milhões de postos de trabalho.
Nas Américas, a queda no segundo trimestre chegou a 18,3%, ou 70 milhões de empregos. Isso porque o hemisfério, atualmente, está sendo mais afetado pela pandemia de Covid-19.
Como ainda há muita incerteza em torno da recuperação no segundo semestre, não se deve voltar aos níveis pré-pandemia, nem mesmo no melhor dos cenários. O relatório aponta ainda que as mulheres foram muito mais afetadas. Com isso, boa parte do modesto progresso em igualdade de gênero das últimas décadas será perdido, e as disparidades de gênero no trabalho serão exacerbadas.
De acordo com a OIT, o forte impacto na força de trabalho feminina se deve ao fato de que as mulheres são maioria nos setores mais afetados pela pandemia, como hotelaria, alimentação, vendas e manufatura. Em todo o mundo, cerca de 510 milhões, ou 40% das mulheres trabalhadoras, estão nos quatro setores mais afetados, contra 36,6% dos homens.
Na América do Sul, a proporção de mulheres nesses setores chega a 45,5%, contra 42% dos homens. Na América Central, são 58,9% e 43%, respectivamente.
Além disso, as mulheres são maioria no trabalho doméstico e de cuidados médicos e de assistência social, com maior risco de perder a renda e de serem contaminadas pelo coronavírus.
A OIT já havia alertado, em junho, que 88,5% das trabalhadoras domésticas nas Américas estavam em risco de perder o emprego e a renda por causa da pandemia. “O progresso, ainda que modesto, na igualdade de gêneros corre o risco de se perder”, disse ao jornal britânico Financial Times o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.
Desigualdade do trabalho – A OIT aponta ainda que a pandemia agravou a distribuição desigual do trabalho não remunerado de cuidados domésticos, devido ao fechamento de escolas e creches. A falta de uma divisão equânime dos serviços em casa dificulta a vida profissional das mulheres que estão em home office. E as mulheres ainda são 78,4% das pessoas que cuidam sozinhas dos filhos, sem cônjuge.
Ryder lamenta que o trabalho doméstico não seja mais bem dividido entre marido e mulher. Ele ressalta que, se depois que passar o pior da pandemia o trabalho remoto se tornar mais frequente, os governos terão de assegurar que a divisão desigual do trabalho não remunerado se agrave ainda mais.
A partir das projeções para a economia global feitas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, a OIT traça ainda três cenários para o mercado de trabalho no segundo semestre: base, otimista e pessimista.
No primeiro, a queda nas horas trabalhadas ficaria em 4,9%, ou 140 milhões de empregos, em relação ao quarto trimestre de 2019. Já no cenário otimista, com uma recuperação rápida da economia, o recuo seria de apenas 1,2%, ou 34 milhões de empregos.
No cenário pessimista, no entanto, teríamos uma repetição do que foi observado no segundo trimestre. A queda nas horas trabalhadas seria de 11,9%, o que significaria encerrar o ano com uma perda de 340 milhões de empregos. Só que, nas Américas, a queda poderia chegar a 15,6%, ou 60 milhões de postos de trabalho.
A fim de amortecer o impacto para os trabalhadores, a OIT defende que os governos adotem medidas de estímulo à economia e ao emprego. Isso passa por apoio às empresas e à renda das famílias, além da proteção dos trabalhadores, assegurando que sejam adotados protocolos de proteção contra o coronavírus e acesso aos sistemas de saúde.