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Foto: Arquivo Agência Brasil

Mulheres recebem 77,7% do salário dos homens, diz IBGE

Mercado de Trabalho

Enquanto o salário médio mensal dos homens era de R$ 2.555, o das mulheres era de R$ 1.985. Elas ocuparam apenas 37,4% dos cargos gerenciais em 2019.

Um estudo divulgado pelo IBGE aponta que a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres ainda é grande no Brasil. Essa é a conclusão da segunda edição do estudo Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou pelo 5º ano seguido, mas elas seguem ganhando menos que os homens e ocupando, cada vez menos, cargos gerenciais

Apesar de mais instruídas, as mulheres ocuparam apenas 37,4% dos cargos gerenciais e receberam 77,7% do rendimento dos homens em 2019. Enquanto o salário médio mensal dos homens era de R$ 2.555, o das mulheres era de R$ 1.985.

O estudo, que analisa as condições de vida das brasileiras, indica que a desigualdade é maior entre as pessoas nos grupos ocupacionais com maiores rendimentos. Nos grupos de diretores e gerentes e profissionais das ciências e intelectuais, as mulheres ganharam, respectivamente, 61,9% e 63,6% da remuneração dos homens.

O levantamento mostrou, ainda, que além da desigualdade sexual, as mulheres também enfrentam desigualdade racial. Em 2019, a taxa de participação entre as mulheres brancas foi de 55,7%, enquanto entre as pretas e partas foi de 53,5% – respectivamente, acima e abaixo da média.

Dentro do grupo das mulheres, a situação do desemprego se agrava quando a análise se volta para as mulheres negras: as pretas e pardas são as mais atingidas pelo desemprego: 18,6% estão desempregadas. Já entre as mulheres brancas, essa taxa é de 12,1%. Na comparação com os homens, 11,5% dos negros estavam desocupados e, entre os brancos, esse índice foi de 9,6%: metade do desemprego observado entre as mulheres negras.

Filhos pequenos são entraves para as mulheres no mercado – A pesquisa do IBGE evidenciou que ter filhos pequenos está entre as muitas barreiras enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho. Na faixa etária entre 25 e 49 anos, a presença de crianças com até três anos de idade vivendo no domicílio se mostra como fator relevante. O nível de ocupação entre as mulheres que têm filhos dessa idade é de 54,6%, abaixo dos 67,2% daquelas que não têm.

A situação é exatamente oposta entre os homens. Aqueles que vivem com crianças até 3 anos registraram nível de ocupação de 89,2%, superior aos 83,4% dos que não têm filhos nessa idade. Uma dificuldade adicional para inserção no mercado pode ser observada no recorte racial dos dados. As mulheres pretas ou pardas com crianças de até três anos apresentaram os menores níveis de ocupação, inferiores a 50%, enquanto as brancas registraram um percentual de 62,6%.

Trabalho doméstico – O trabalho doméstico também é muito relevante na situação das mulheres e a vida laboral. Por exemplo, mulheres dedicaram quase o dobro do tempo que os homens aos afazeres domésticos não remunerados.

No Brasil, em 2019, as mulheres dedicaram aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos quase o dobro de tempo que os homens – 21,4 horas semanais contra 11,0 horas. Embora na Região Sudeste as mulheres dedicassem mais horas a essas atividades – 22,1 horas, a maior desigualdade se encontrava na Região Nordeste.

A renda causa impacto significativo no período dedicado aos afazeres domésticos. Entre as mulheres que integram o grupo de 20% da população com os menores rendimentos, mais de 24 horas semanais foram consumidas por atividades voltadas para a casa. Entre aquelas que integram a fatia de 20% dos brasileiros com os maiores rendimentos, esse tempo se reduz para pouco mais de 18 horas semanais.

Educação – O levantamento aponta que não há influência educacional na desigualdade. “As menores remunerações e maiores dificuldades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho não podem ser atribuídas à educação. Pelo contrário, os dados disponíveis indicam que as mulheres brasileiras são, em média, mais instruídas que os homens”, registra a pesquisa.

Entre a população com 25 anos ou mais, 37,1% das mulheres não tinham instrução ou possuíam apenas fundamental incompleto. Entre os homens, esse percentual alcança 40,4%. “Evidentemente precisamos pontuar as desigualdades entre as mulheres. A taxa ajustada de frequência escolar líquida das mulheres brancas é 40,9% e das mulheres pretas ou pardas, de 22,3%”, diz o pesquisador do IBGE Bruno Perez.

Elas levam vantagem também quando se compara a proporção de pessoas com nível superior completo. Entre os homens, esse índice é 15,1%, e entre as mulheres, de 19,4%. Os dados revelam uma mudança do cenário nas últimas décadas, já que entre a população de 65 anos ou mais observa-se situação inversa. Nessa faixa etária, as mulheres registram nível de instrução ligeiramente inferior ao dos homens.

Evolução tímida – Avanços na área da saúde e dos direitos humanos são relatados no estudo, como o aumento da expectativa de vida e a redução do casamento de menores de idade. Por outro lado, o IBGE chama a atenção para dificuldades do país na produção dos indicadores sobre violência contra a mulher.

Outra observação da pesquisa diz respeito à sub-representação. Na política, a evolução da participação feminina é bem tímida. “Apesar de um aumento no número de deputadas federais entre 2017 e 2020, temos atualmente apenas 14,8% de mulheres em exercício na Câmara dos Deputados. Com esse dado, o Brasil tem a menor proporção entre os países da América do Sul e fica na posição de número 142 em um ranking de 190 países”, observa a pesquisadora Luanda Botelho.

De acordo com a pesquisa, apesar de as mulheres serem maioria na população brasileira e mais escolarizadas, somente 16% dos vereadores eleitos no país em 2020 foram mulheres. Comparado com 2016, houve aumento de menos de três pontos percentuais.

“A ampliação de políticas sociais ao longo do tempo, incrementando as condições de vida da população em geral, fomenta a melhora de alguns indicadores sociais das mulheres, como nas áreas de saúde e educação. No entanto, não é suficiente para colocá-las em situação de igualdade com os homens em outras esferas, em especial no mercado de trabalho e em espaços de tomada de decisão”, acrescenta o levantamento.

Políticas públicas – Para o IBGE, a sistematização de indicadores sociais que retratam desigualdades da sociedade brasileira, como foi feita nesta segunda edição do levantamento sobre as estatísticas de gênero, serve de subsídio para a formulação de políticas públicas. Parte dos indicadores reunidos será divulgada na plataforma da Agenda 2030 para o monitoramento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, pactuados no âmbito da Organização das Nações Unidas – ONU.

A primeira edição do levantamento, publicada em 2014, foi elaborada com base nos resultados do Censo Demográfico 2010. Ela já revelava a maior escolarização das mulheres e a considerável inferioridade de rendimentos na comparação com os homens.

Desde 2012, o Brasil integra o Grupo Interinstitucional de Peritos em Estatísticas de Gênero – IAEG-GS instituído pela ONU. A entidade tem como objetivos definir áreas prioritárias no debate sobre desigualdades de gênero e fortalecer as capacidades estatísticas para produção de informações relevantes para a temática. Os estudos do IBGE levam em conta recomendações internacionais feitas pelo IAEG-GS, o que permite chegar a indicadores de monitoramento que possam ser comparáveis entre os países.

Fonte: Com Agência Brasil, Correio Braziliense, G1 e O Dia

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