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Profissionais relatam o drama de trabalhar sem EPIs suficientes e treinamento

Coronavírus

Em seminário online, a ISP, entidade da qual a CNTS é filiada, mostrou que 63% dos trabalhadores entrevistados não receberam EPIs adequadamente e 77% não tiveram treinamento para Covid-19. A ISP também lançou manifesto enumerando série de propostas para melhorar a situação do país, como reforma tributária solidária e justa, revogação do teto dos gastos e recuperação do SUS.

A falta de equipamentos de proteção individual, de treinamento e sofrimento psíquico foram os principais pontos indicados por trabalhadores de serviços essenciais na pesquisa “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas”, realizada pela ISP – Internacional de Serviços Públicos, entidade da qual a CNTS é filiada, divulgada em seminário virtual na última terça-feira, 25.

Os resultados sintetizados pelos pesquisadores Patrícia Pelatieri, do Dieese, e Jandir Pauli, Centro de Educação e Assessoramento Popular – CEAP, relevam que 63% dos trabalhadores pesquisados disseram que a quantidade de EPIs fornecida em seu local de trabalho era insuficiente para troca e higienização, principalmente para os que cumprem turnos de mais de 12 horas; 77% relataram que não tiveram nenhum treinamento para lidar com a realidade do trabalho que desenvolvem junto à população; e 54% dos trabalhadores sofreram por ter de lidar com situações às quais não se sentiam devidamente capacitados, ocasionando sofrimento psíquico.

A coleta de dados foi realizada entre 31 de março e 15 de junho com 3.036 participantes, sendo 86% dos respondentes são trabalhadores da saúde e 75% mulheres.

Questão de gênero – Entre as mulheres, 57% informaram passar por sofrimento psíquico neste período, já entre respondentes homens a porcentagem é de 44%, o que dá margem para analisar essa questão a partir das desigualdades de gênero: dupla ou tripla jornada de trabalho feminina, menores salários, maior precarização das relações de trabalho, falta de compartilhamento das tarefas domésticas com a família, mulheres como chefas de família e, portanto, maiores responsabilidades, pressão e sobrecarga de trabalho, agravadas por exposição ao assédio moral e/ou sexual.

Outro dado que chama atenção é o volume e a dramaticidade dos relatos apresentados em uma pergunta não obrigatória, mas respondida por 55% dos participantes da enquete, sobre comentários gerais em relação às condições de trabalho. As palavras mais descritas na pergunta aberta sobre sofrimento psíquico foram: ansiedade, estresse, medo, pânico, insônia, angústia e pressão. Outro dado alarmante é de que 94% dos trabalhadores informaram que não foi oferecida hospedagem no local de trabalho a quem não poderia retornar para casa por conviver com pessoas do grupo de risco.

Convidado do seminário, o procurador do Ministério Público do Trabalho, Ronaldo Lima dos Santos, destacou a importância da pesquisa da ISP, afirmando que a situação da pandemia é de guerra, por isso é preciso ter dados para a tutela eficaz dos profissionais.

Como indicativos, a pesquisa aponta a necessidade de ações de curto prazo para regularização do fornecimento de EPIs, gestão da carga horária de trabalho e apoio psicológico. Diante dos resultados, Denise Motta Dau, secretária sub-regional da ISP, enfatiza que também é preciso ações estruturais para melhoria das condições de trabalho, como políticas de valorização e reconhecimento, de representação, de humanização e de gestão do trabalho.

Manifesto – Ao final do seminário foi divulgado o Manifesto “Proteger para Salvar – o futuro do Trabalho na Saúde e serviços essenciais”, assinado por dezenas de entidades representantes de trabalhadores, entre elas a CNTS, enumerando série de propostas viáveis para avançar rumo a um Brasil mais justo e igualitário, como reforma tributária solidária e justa, taxação de grandes fortunas, revogação Emenda Constitucional 95 e recuperação do SUS.

De acordo com o manifesto, nada vai repor as vidas ceifadas. “Precisamos mudar urgentemente este quadro, reconstruir os serviços, evitar novas perdas e seguir com nosso trabalho de forma que ele não se torne uma tortura diária devido às más condições geradoras de alto sofrimento psíquico ou por serem locais inseguros e potenciais polos contaminadores à população. Na pós-pandemia será necessário o oferecimento de serviços eficientes e ágeis para mitigar o impacto deixado nas condições de vida e nos atendimentos represados. Por isso, para nós, o novo normal exige condições decentes de trabalho”.

As entidades representantes de trabalhadores ainda acrescentam que não pararam de trabalhar em meio à pandemia, pelo contrário, o trabalho aumentou muito, seja o presencial, seja o teletrabalho. “A maioria de nós, em especial quem atua na área da saúde, esteve e está diretamente na frente de combate ao coronavírus, atendendo à população. Ademais, estamos mantendo, nos diversos setores de serviços essenciais, o funcionamento durante toda a pandemia para garantir que a população faça o isolamento social e se proteja. Porém, também precisamos e exigimos proteção adequada. Nossas vidas importam”.

“Em geral, antes da pandemia, já enfrentávamos dificuldades e não tínhamos a proteção ideal para exercer nossas funções de forma digna, porém, agora, para travar a batalha contra a pandemia, a situação agravou-se e foi explicitada: infelizmente estamos desprotegidos e muitas mortes poderiam ter sido evitadas caso os investimentos, coordenação e planejamento públicos estivessem sendo objetos permanentes de atenção e cuidado por parte dos poderes”, afirma o manifesto.

O documento da ISP encerra afirmando que “vimos colegas de trabalho morrerem, vimos pessoas desesperadas em busca de um leito de UTI e de respiradores, vimos famílias destroçadas por suas perdas. Vimos centenas de covas serem abertas enquanto publicamente algumas autoridades desdenhavam dos impactos letais da pandemia. Não queremos e não vamos continuar trabalhando e vivendo desta forma. Recebemos gratificantes e benvindos aplausos e nesse momento pedimos também o apoio da população para que medidas concretas de reconstrução dos serviços de saúde e essenciais sejam tomadas”. Veja a íntegra do manifesto, clicando aqui.

Fonte: Com informações ISP

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