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Foto: Carolina Antunes/PR

Bolsonaro desautoriza Pazuello sobre vacina e entra em atrito com seu terceiro ministro da Saúde seguido

Política

Nas redes sociais, presidente afirmou que não irá comprar a vacina chinesa. Ontem, o ministro da Saúde havia anunciado a intenção de adquirir 46 milhões de doses do imunizante Coronavac.

O combate à Covid-19 continua sendo politizado pelos agentes públicos brasileiros, sendo que, antes mesmo de a vacina chegar, já se discute se ela será obrigatória ou se deve ser comprada. Isolado com sintomas de Covid-19, o ministro da Saúde Eduardo Pazuello vem sentindo na pele, nas últimas horas, o que Luiz Henrique Mandetta viveu na pasta quando entrou em rota de colisão com o Planalto por se aproximar de João Doria nas ações da pandemia.

Ontem, 20, depois de uma reunião com governadores, o chefe da Saúde afirmou que a vacina da China, produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, seria o imunizante brasileiro na luta contra o vírus. Um protocolo de intenções teria sido desenhado para garantir a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac no fim do ano e outro lote de 100 milhões de doses no meio de 2021.

“A vacina do Butantan será a vacina brasileira. Com isso, o registro vem pela Anvisa e não pela Anvisa chinesa. E isso nos dá mais segurança e margem de manobra”, afirmou o ministro.

A adesão do Ministério da Saúde, que anunciou ainda a edição de uma medida provisória de R$ 1,9 bilhão para a compra do produto, pegou o Planalto de surpresa. Pazuello foi fortemente cobrado por Jair Bolsonaro diante da leitura de que o ministro, ingênuo politicamente, acabou oferecendo a Doria “o grande palanque nacional da vacina”, um erro político semelhante ao de Mandetta, na avaliação do Planalto, quando fez tabelinha com Doria numa das primeiras grandes coletivas de combate ao coronavírus no início do ano.

Bolsonaro chamou uma reunião com Pazuello logo cedo para cobrar explicações. A leitura, segundo auxiliares palacianos, é de que o ministro se deixou envolver por Doria, franqueando os holofotes políticos ao governador, que capturou o noticiário de grande organizador da vacina, enquanto o governo Bolsonaro, que bancará toda a logística, saiu como coadjuvante.

A chamada “ala civil” da Esplanada, há tempos incomodada com alguns movimentos dos militares, entrou com tudo nessa discussão. Bolsonaro deseja desfazer a “trapalhada” de Pazuello porque considera que o anúncio de compra da vacina chinesa foi prematuro, pois ainda não há sequer comprovação de eficácia do produto.

A coisa anda feia para o general. Há pouco, nas redes, Bolsonaro desautorizou o auxiliar ao escrever numa rede social, em letras garrafais, que a vacina chinesa, ao contrário do que prometeu Pazuello, “NÃO SERÁ COMPRADA”. O vídeo de Doria anunciando ao país a tabelinha com o ministro de Bolsonaro pela vacina foi um dos elementos que deixou Bolsonaro injuriado.

Pazuello é o terceiro ministro da Saúde com quem Bolsonaro mantem atritos públicos. Antes dele, o presidente teve choques com Luiz Henrique Mandetta, sobre as restrições para enfrentar a pandemia de covid-19 – o Presidente defendia relaxar as medidas sanitárias, contra a postura adotada pelo então ministro. E com Nelson Teich, nesse episódio, o ministro se recusou a endossar publicamente a suposta eficácia da cloroquina contra o novo coronavírus, algo que acabou sendo feito por Pazuello, um militar que foi efetivado como ministro no dia 14 de setembro, pouco mais de um mês atrás.

A politização da vacina – A vacina contra a Covid-19, seja ela qual for, venha de onde vier, é a última esperança para milhões de brasileiros aflitos com os terríveis números da doença no país: mais de 5 milhões de casos confirmados e quase 155 mil mortos.

De acordo com o editorial do jornal Estadão, as ações do presidente em relação a politização da vacina são desumanas e indignas. “As aflições de Jair Bolsonaro são de outra natureza. O presidente teme os supostos reveses políticos que o sucesso da “vacina chinesa do Doria”, possa causar em sua pretensão de ser reeleito em 2022. É desumano e indigno. Para qualquer presidente da República minimamente cioso da responsabilidade do cargo que ocupa, o cálculo político deveria ser a última de suas preocupações quando o que está em jogo é a vida de milhões de seus concidadãos”.

E ainda afirma que a vacina contra a Covid-19 – ou as vacinas, haja vista que três ou quatro imunizantes em desenvolvimento têm boas perspectivas de sucesso – deve ser segura e eficaz. Se estas duas condições estiverem presentes, não importa a origem, o governo federal deve se empenhar para garantir que o maior número de brasileiros a receba no menor prazo possível. Competência para um desafio dessa magnitude não falta às nossas autoridades sanitárias. O Programa Nacional de Imunizações – PNI é um virtuoso exemplo. É o maior programa público de vacinação do mundo. Cerca de 300 milhões de doses contra mais de 30 doenças são aplicadas anualmente em 36 mil postos de saúde espalhados por todo o território nacional.

Em carta ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde – Conass pediu que o Ministério não descarte a Coronavac no PNI de 2021. O programa, tal como foi apresentado, contempla a vacina em desenvolvimento pela Fiocruz em parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca, entidades com as quais o governo federal firmou acordo de parceria.

De acordo com o Estadão, se até agora ficou patente a absoluta falta de coordenação nacional dos esforços de combate à pandemia, não é tarde para que o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, coordene a compra e distribuição das vacinas que mais rapidamente obtiverem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Não é improvável que mais de uma vacina seja necessária para dar conta da cobertura vacinal de todos os brasileiros que precisarem ser imunizados contra o novo coronavírus.

O periódico ainda afirma que “a tão esperada vacina contra a Covid-19 não pode ser pautada por critérios que escapem à ciência e, não menos importante, à empatia e à compaixão. É do resguardo da saúde da população brasileira que se trata. Este deve ser o norte indesviável das decisões de lideranças públicas dignas do nome”.

Para João Gabbardo, coordenador-executivo do Comitê de Contingência do Coronavírus de São Paulo, a politização da discussão sobre a vacina chinesa é “absolutamente desprezível” neste momento. “Esta resistência tem origem no grande problema que a gente teve no enfrentamento da pandemia desde o início dela. Não conseguimos unificar o nosso discurso para a população porque o assunto sempre é politizado e polarizado. Isso é absolutamente desprezível, fazer este tipo de discussão neste momento. O que todos nós queremos é que possamos interromper, o mais rápido possível, este processo de transmissão da doença, nós queremos voltar a ter uma vida normal”, afirmou.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também criticou o uso ideológico e político da vacina. “Não queremos uma nova guerra na Federação. Mas com certeza os governadores irão ao Congresso Nacional e ao Poder Judiciário para garantir acesso da população a todas as vacinas que forem eficazes e seguras. Saúde é um bem maior do que disputas ideológicas ou eleitorais”, afirmou.

Fonte: Com El País, Estadão, Veja, O Globo e CNN Brasil

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