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Foto: Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas

PIB tem queda histórica de 9,7% no segundo trimestre e pandemia arrasta o Brasil para recessão

Economia

Indústria e Serviços foram os setores mais afetados, enquanto queda do consumo das famílias bate recorde, com recuo de 12,5%, segundo dados do IBGE. Auxílio emergencial atenuou impacto.

O Produto Interno Bruto – PIB do Brasil registrou tombo histórico de 9,7% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano, segundo dados divulgados nesta terça-feira, 1, pelo IBGE. Em relação à igual período de 2019, o PIB caiu 11,4%. Ambas as taxas foram quedas mais intensas da série, iniciada em 1996. O resultado inédito mostra o forte impacto da pandemia do coronavírus na atividade econômica e os efeitos das medidas de isolamento social. Com a retração, a economia brasileira entra em recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de encolhimento do PIB. A queda do primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre do ano passado foi revisada para 2,5%, ante 1,5% inicialmente informado.

Entre os segmentos, a maior queda foi na indústria, com queda de 12,3%, puxada pelo forte recuo na produção de produtos duráveis ou semiduráveis, como automóveis e vestuário, respectivamente. O setor de não-duráveis, como alimentos e itens de higiene, no entanto, contribui para amenizar o resultado negativo.

Com o fechamento de vários estabelecimentos no país – como bares, lojas e restaurantes –, principalmente durante abril e maio, o setor de serviços, responsável por cerca de 70% do valor do PIB brasileiro, se retraiu 9,7% no trimestre. Já o setor da agropecuária apresentou variação positiva de 0,4%, puxada, principalmente, pela produção de soja e café. “Esses resultados referem-se ao auge do isolamento social, quando diversas atividades econômicas foram parcial ou totalmente paralisadas para enfrentamento da pandemia”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Auxílio emergencial não impede queda histórica do consumo das famílias – Pelo lado da demanda, o maior tombo foi no consumo das famílias, 12,5%. O auxílio emergencial ajudou a atenuar o resultado negativo, mas não foi suficiente para impedir o recuo pela demanda por bens e, principalmente, por serviços, setor que foi o principal motor do crescimento após a última recessão de 2015/2016. “O consumo das famílias não caiu mais porque tivemos programas de apoio financeiro do governo. Isso injetou liquidez na economia. Também houve crescimento do crédito voltado às pessoas físicas, que compensou um pouco os efeitos negativos”, afirmou Palis.

Os investimentos também sofreram um forte recuo de 15,4% ante os três primeiros meses do ano. Já as exportações cresceram 1,8%, enquanto as importações caíram 13,2%, especialmente com o dólar em alta desde o início do ano.

Os rumos a crise – Os indicadores econômicos pelo mundo mostram uma tendência de retração generalizada. O histórico tombo de 11,4% da economia brasileira sobre igual período do ano passado não foi, no entanto, um dos piores se comparado ao dos países da região que já divulgaram o PIB, como Chile, 13,7%, Peru, 30%, e México, 19%, e mesmo em relação a algumas economias europeias.

“Há algumas diferenças no Brasil. Primeiro, o programa de transferência de renda para as pessoas mais vulneráveis, o auxílio emergencial, foi acima da média da região. Isso é consumo na veia, a renda das pessoas mais pobres aumentou, impedindo uma recessão mais profunda”, explica Silva Matos, economista e pesquisadora sênior da área de Economia Aplicada do FGV. Ela aponta que também influenciou no resultado a forma como o Brasil enfrentou a pandemia. “Nós não fizemos um lockdown nem qualquer isolamento tão severo, como em países europeus ou até mesmo da região, o que permitiu o funcionamento de mais atividades”.

Segundo estimativas do FGV, o cenário de retomada deve se manter nos próximos meses, mas em ritmo mais gradual, em função da cautela dos consumidores, em um contexto de mercado de trabalho muito fragilizado. A extensão do auxílio emergencial até o fim do ano, anunciada por Bolsonaro nesta manhã, deve também atenuar a queda do PIB deste ano. O presidente prorrogou o benefício para mais quatro parcelas – de setembro até dezembro – de R$ 300, metade do valor atual.

O momento atual, no entanto, é ainda de elevadas incertezas, não apenas pela resposta dos diferentes segmentos econômicos à crise como pela própria evolução dos casos do coronavírus. Atualmente o Brasil ainda possui níveis elevados no número de contágios e mortes pela Covid-19 – somando mais de 121 mil vítimas da doença –, e a pressão por mais gastos se intensifica em um espaço fiscal muito limitado.

Fonte: Com El País e Estadão

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