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Foto: Márcio Sampaio/Gov. Maranhão

Especialistas dizem que não há vacinas nem para metade dos profissionais de saúde do país

Saúde

Em nota técnica, eles estimam em dez milhões de doses a quantidade mínima para proteger grupos de maior risco, enquanto país só dispõe de seis milhões.

A vacinação contra a Covid-19 começou no Brasil sem o mínimo de vacinas necessárias para os grupos de maior risco. Uma nota técnica de especialistas em saúde pública apresentada na segunda-feira, 18, estima em dez milhões de doses a quantidade mínima de vacinas contra a Covid-19 para proteger os profissionais de saúde.

Porém, com apenas seis milhões de doses garantidas – apenas as da CoronaVac –, o país não tem vacinas nem para a metade dos grupos da primeira fase. Pois, esta fase também inclui idosos com mais de 60 anos e pessoas com deficiências físicas internadas em instituições, além de indígenas em terras demarcadas.

“Temos um cenário de improviso e precariedade na vacinação contra a pandemia. Era obviamente para esse planejamento ter sido feito há meses. Se há correria é porque o Ministério da Saúde não fez o trabalho dele, de organizar em detalhes grupos e critérios e planejar a distribuição aos estados. Continuamos sem vacina num momento de expansão da pandemia”, afirma Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP. Ele é autor da nota técnica “Vacinação prioritária contra Covid-19 para trabalhadores da saúde no Brasil”, emitida pela Rede de Pesquisa Solidária, que reúne mais de 100 cientistas de várias instituições brasileiras.

Segundo ele, o Brasil é vítima da falta de doses e de planejamento por parte do Ministério da Saúde, das inconsistências do plano nacional de vacinação e do confronto com os governos estaduais, principalmente, o de São Paulo.

Fontes de informação são insuficientes – Na verdade, dizem cientistas, o governo federal nem sequer sabe exatamente quantos são os profissionais de saúde, o grupo prioritário, e quantos destes estão na linha de frente.“As fontes de informações baseadas em vínculos formais de trabalho ou registros em conselhos profissionais são parâmetros insuficientes para o dimensionamento da vacinação e da definição de elegibilidade de profissionais da saúde a serem vacinados. Apesar da urgência, o país segue sem metas objetivas e prazos definidos e até mesmo sem saber quem são e quantos são os que compõem os grupos prioritários”, diz a nota técnica.

“Com isso, o país corre o risco de deixar de fora quem mais precisa da imunização seja para proteção individual, devido à altíssima exposição ao coronavírus, quanto para reduzir a chance de que transmitam a doença”, afirma a sanitarista Ligia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

Segundo os cientistas, não existe nenhuma base de dados completa sobre os profissionais de saúde, designação vasta, que inclui de médicos e enfermeiros a pessoal de faxina, acolhimento e assistência social, dentre outras. Ou seja, várias categorias com níveis de risco distintos.

Em todos os cenários, faltam doses – Há pelo menos quatro grandes bases: Contas Nacionais/IBGE e Relação Anual de Informações Sociais (RAIS); Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Pnad Contínua/IBGE; Conselhos Profissionais e Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Porém, em todas, o número de profissionais e, logo, o de doses, necessárias excede o de vacinas disponíveis.

Scheffer destaca que a estimativa de cinco milhões de profissionais – e, assim, dez milhões de doses – é a mais conservadora possível. Em todos os cenários, faltam vacinas.

A sanitarista Ligia Bahia observa que, no caso da CoronaVac, única vacina disponível até o momento, a situação é ainda mais complexa porque são necessárias duas doses num intervalo de 21 dias, e não há na bula do imunizante qualquer alusão de que a segunda dose possa ser adiada sem que prejuízo à eficácia. “É uma vergonha, um escracho. Assistimos uma distribuição aos trancos e barrancos, sem planejamento, num cenário de miséria de vacinas. Há vacinas somente para exibição política, mas não para a proteger a população de fato”, enfatiza.

Especialistas recomendam que vacinação comece por profissionais do SUS – Os pesquisadores acrescentam que o plano de distribuição do Ministério da Saúde, baseado em dados populacionais, ameaça deixar cidades grandes como o Rio de Janeiro, sem vacinas para o pessoal da linha de frente.

O Brasil tem uma distribuição desigual de profissionais de saúde, sem proporcionalidade com a população de estados e municípios. Por exemplo, nada menos que 51% dos médicos estão concentrados no Sudeste.

E, como o Ministério da Saúde não planejou com o devido detalhamento como se daria a vacinação dos chamados grupos prioritários, estados e municípios correm para estabelecer critérios. “Isso tudo já deveria estar planejado. Esse é o papel do Ministério da Saúde. Agora, os municípios estão sujeitos também à pressão política local, para fazer um papel de organizador de critérios que não é função deles”, diz Scheffer.

Na falta de plano, os pesquisadores consideram o mais adequado começar a vacinação pelos profissionais que trabalham nos principais centros do SUS de atendimento à Covid-19. “Infelizmente, já estamos vendo um início com uso político. No Rio, por exemplo, em vez de a vacinação começar no Corcovado, deveria iniciar do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, onde está quem precisa”, diz Bahia.

Fonte: O Globo

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