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Foto: Tony Winston/MS

Em meio à fritura de Pazuello, Brasil enfrenta colapso hospitalar e aumento de mortes por Covid

Saúde

Quando o general do Exército assumiu a pasta interinamente, eram quase 15 mil mortes, hoje, são mais de 278 mil. A gestão de Pazuello no Ministério da Saúde foi marcada por maquiagem dos números da pandemia, distribuição e gastos com a cloroquina, omissão diante da escassez de oxigênio em Manaus, deixou vencer testes de detecção de Covid e deu de ombros para ofertas de vacinas.

Discutida por Bolsonaro no fim de semana, saída de ministro tenta dissociar presidente da má condução da crise e dissolver incômodo do centrão e do mercado. Cardiologistas Ludhmila Abrahão Hajjar e Marcelo Queiroga são sondados para o cargo.

Em meio a um intenso desgaste pelo colapso do sistema de saúde em várias regiões do país, seguidos recordes de mortes causadas pelo coronavírus e atrasos na vacinação, aumenta a pressão política para que o ministro Eduardo Pazuello deixe o comando da Saúde. Por ora, o militar nega ter se demitido ou que o presidente Jair Bolsonaro tenha lhe pedido o cargo, mas diz que entregará o Ministério assim que o presidente pedir. Bolsonaro se reuniu no domingo, 14, com a médica Ludhmila Abrahão Hajjar, cotada para substituir o militar, mas não tomou a decisão final. Nos bastidores, fontes do Planalto relataram a vários jornais que Pazuello deve deixar a pasta ainda nesta semana.

O desligamento de Pazuello é articulado por meio de uma exoneração “a pedido”, em que o militar justificaria a necessidade de um afastamento para cuidar da saúde. Mas, na prática, a mudança é orquestrada por pressão de parlamentares do Centrão – que agora formam a base do governo – como parte da mudança de postura que é exigida de Bolsonaro diante da gravidade da pandemia e da consequente crise econômica gerada por ela. Nos últimos dias, o presidente, entusiasta de uma postura negacionista, passou a adotar um discurso pró-vacina, para enviar sinais ao mercado de que pretende trabalhar em prol da vacinação em massa, única maneira de retomar a vida normal e reduzir, por exemplo, as restrições comerciais impostas pela pandemia. Depois de a notícia da saída de Pazuello começar a circular, entretanto, o próprio ministro sinalizou contra a estratégia. E mandou um recado pelo Twitter de seu assessor de comunicação, conhecido como Markinho Show: “Não estou doente, não entreguei o meu cargo e o presidente não o pediu, mas o entregarei assim que o presidente solicitar. Sigo como ministro da Saúde no combate ao coronavírus e salvando mais vidas”, declarou o general.

Número de mortes aumentou quase 20 vezes – Caso a saída de Pazuello se concretize, ele será o terceiro ministro a deixar a pasta da Saúde desde o início da pandemia, há um ano. Em abril do ano passado, o médico Luiz Henrique Mandetta foi demitido pelo presidente, que não concordava com as medidas de isolamento social defendidas pelo Ministério da Saúde. Nelson Teich, que o substituiu, durou menos de um mês no comando da pasta – deixou o órgão também por discordâncias com o presidente, que recomendava o uso de cloroquina, remédio que não tem qualquer respaldo da ciência para proteção contra a Covid-19.

Sem experiência na área, Pazuello assumiu no início da gestão que ainda estava conhecendo o SUS e passou um longo período comandando a pasta interinamente. Uma de suas primeiras ações foi a publicação de um protocolo que recomendava o uso de cloroquina para o tratamento da doença. Quando o general Eduardo Pazuello assumiu interinamente o Ministério da Saúde, no dia 15 de maio, o Brasil registrava 14.817 mortos e 218.223 casos de Covid-19. Hoje, 15, o Brasil atinge a marca de 278.229 mortes confirmada e 11.483.370 casos.

Em junho de 2020, Pazuello já havia demonstrado descaso com os fatos quando determinou a retirada do número acumulado de casos e óbitos do painel oficial de monitoramento epidemiológico da Covid-19, deixando somente os registros das últimas 24 horas. Com a repercussão negativa, principalmente entre cientistas e imprensa, o governo recuou.

Além disso, sob o comando do general do Exército, o Ministério decidiu comprar, com dinheiro público, três toneladas de insumo farmacêutico para fabricação de cloroquina, mesmo com os técnicos alertando que: “Devido à atual situação, não é aconselhável trazer uma quantidade muito grande, pois, caso o protocolo venha a mudar, podemos ficar com um número em estoque parado para prestar contas”.

Enquanto o Exército aumentou em 80 vezes a produção da cloroquina durante a crise, os remédios realmente essenciais para o tratamento de pacientes com Covid-19 estão em falta. Desde o fim de maio, os técnicos do Comitê de Operações de Emergência alertavam o governo sobre os baixos estoques de medicamentos como sedativos, anestésicos, analgésicos e bloqueadores neuromusculares, o chamado “kit intubação. Esses insumos são usados em pacientes que precisam de máquinas para respirar com o objetivo de não acordarem ou sentirem dor quando intubados.

Além disso, foi na gestão do general que o país viu mais de nove milhões de testes de Covd-19 irem para o lixo porque perderam a validade. A gestão de Pazuello foi marcada também pelos atrasos e omissões na compra das vacinas. No ano passado, o ministro deu de ombros para ofertas de vacina da Pfizer e o país deixou de comprar 70 milhões de doses, que seriam entregues no final do ano passado.

Pazuello permaneceu como ministro interino por meses, até que fosse efetivado pelo presidente no cargo. O militar, que costuma seguir as bravatas e imposições do presidente, deve deixar o Ministério no momento mais crítico da pandemia no Brasil, com vários estados já enfrentando um colapso hospitalar com superlotação de UTIs e seguidos recordes de mortes. Neste domingo, foram registradas mais 1.127 óbitos e 43.812 infecções causados pelo coronavírus, números elevados considerando a subnotificação que ocorre nos fins de semana, quando laboratórios funcionam em regime de plantão. O país já soma mais de 278 mil mortes causadas pela doença.

Crise do oxigênio – Durante a gestão de Pazuello, o estado do Amazonas enfrentou a pior fase da pandemia de Covid-19, passando por problemas com lotação de UTIs e falta de oxigênio. Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, confirmada pelo G1, a empresa White Martins, que fornece o oxigênio para hospitais, enviou, três dias antes do colapso, um e-mail solicitando aponto logístico ao Ministério da Saúde para enviar o insumo para Manaus. A falta de oxigênio causou a morte de pacientes em Manaus. Pazuello alegou que o problema com o oxigênio em Manaus se deu devido a um problema na rede de gás da região.

A procura de substitutos – Os rumores sobre a decisão de substituir Pazuello começaram depois que Bolsonaro discutiu o assunto com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Em seguida, ele tratou do assunto com o próprio ministro da Saúde e com outros três generais do primeiro escalão do governo, Walter Braga Netto, da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo e Fernando Azevedo, da Defesa. Azevedo teria ido ao encontro para apresentar possibilidades de remoção de Pazuello, já que ele ainda é um general da ativa. Ao longo das articulações no fim de semana, dois médicos foram sondados para assumir o cargo: Ludhmila Abrahão Hajjar e Marcelo Queiroga.

Hajjar defende publicamente o que preconiza a ciência no combate à pandemia: é a favor do distanciamento social, defende a vacinação em massa e admite que não existe um tratamento precoce contra a Covid-19. A médica recusou assumir a pasta por motivos técnicos. “Fiquei muito honrada pelo convite do presidente [Jair] Bolsonaro, tivemos dois dias de conversas, mas infelizmente acho que esse não é o momento para que eu assuma a pasta do Ministério da Saúde por alguns motivos, principalmente por motivos técnicos. Sou médica, cientista, especialista em cardiologia e terapia intensiva, tenho toda minhas expectativas em relação à pandemia. O que eu vi, o que eu escrevi, o que eu aprendi está acima de qualquer ideologia e acima de qualquer expectativa que não seja pautada em ciência”, afirmou.

Não importa quem for o escolhido para comandar a pasta, o problema que o país enfrenta está no Palácio do Planalto, não na Esplanada dos Ministérios. O país tem um presidente da República que recusa tomar todas as medidas necessárias para combater a pandemia e ataca duramente quem tenta salvar vidas. Que vendo a cloroquina para todos, que condenou o distanciamento social, que amaldiçoou a “vacina chinesa de João Doria”, que enxergou jacaré na vacina da Pfizer. Enquanto Jair Bolsonaro cria crises, vidas são perdidas.

A CNTS reafirma mais uma vez: precisamos que Bolsonaro presida este país. Compre vacinas; compre respiradores; construa hospitais; compre EPIs; valorize os trabalhadores da saúde que estão arriscando a vida para salvar a população; garanta ajuda aos brasileiros pagando o auxílio emergencial; mantenha os empregos; cuide das pequenas empresas; e respeite a dor do seu povo.

Fonte: Com El País, Exame, UOL, O Globo e CNN Brasil

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