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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em meio a colapso nacional, Bolsonaro omite erros na pandemia e tenta culpar governadores

Coronavírus

Presidente, que sempre minimizou Covid-19, faz campanha contra estados no pior momento da crise. Pelas redes sociais, além de criticar as medidas de restrições para controlar o vírus, o presidente da República ainda minimizou a falta de leitos, dizendo que "a saúde no Brasil sempre teve seus problemas".

Ignorando a sucessão de erros e omissões do governo federal na condução da crise do coronavírus, Jair Bolsonaro e ministros tentam jogar para os estados a culpa pelo Brasil atravessar o pior momento da pandemia até agora.

O presidente postou em suas redes uma tabela com valores que cada estado teria recebido em 2020. Nas entrelinhas, quis dizer que há dinheiro sobrando e que os recursos não foram bem utilizados.

Na conta elaborada por Bolsonaro, os dados dos repasses foram retirados de Portal da Transparência, Localiza SUS e Senado Federal. O presidente considera no montante ‘valores diretos’ (saúde e outros), ‘valores indiretos’ (suspensão e renegociação de dívidas) e ainda cita, de forma separada, o repassado em auxílio emergencial enquanto ele esteve em vigor.

De acordo com os governadores, os dados são distorcidos porque englobam repasses obrigatórios pela Constituição Federal, que estão previstos pelo pacto federativo. Ainda de acordo com os governadores, os recursos efetivamente repassados para a área de Saúde correspondem a uma “parcela absolutamente minoritária dentro do montante publicado” e os instrumentos de auditoria de repasses federais estão em vigor.

A postura do governo federal é criticada desde os primeiros dias do surgimento da Covid-19, em fevereiro do ano passado. Bolsonaro minimiza o vírus desde o início, tendo em uma das suas primeiras manifestações chamado a doença de gripezinha.

Ele também sempre foi contrário a medidas restritivas, causou aglomerações diversas vezes e nos últimos dias também questionou a eficácia do uso das máscaras.

Como mostrou o Painel no domingo, 28, governadores admitem nos bastidores que deveriam tomar medidas mais duras agora para conter o avanço da Covid-19, mas não conseguem por pressão social. Eles culpam Bolsonaro pelo seu discurso negacionista.

Vários deles afirmam que o país está à beira de um colapso nacional. Segundo Wellington Dias (PT-PI), mais de 21 estados estão com mais 70% de leitos ocupados.

Além de ter negado a gravidade do vírus, Bolsonaro também apostou durante a maior parte do tempo na utilização de cloroquina, remédio que não tem a eficácia comprovada para o tratamento de coronavírus.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, fez diversas publicações em defesa do presidente e atacando estados. Cutucou João Doria (PSDB-SP) implicitamente e outros governadores por terem desmontado hospitais de campanha.

“Desmontam os hospitais de campanha, vão pra Miami ‘sem máscara’ comprar na Gucci, fazem coletiva todos os dias que ninguém suporta mais e quebram a economia sem o menor pudor. Tiveram tempo e dinheiro sobrando do governo federal!”, escreveu.

Doria viajou a Miami no final do ano para um período curto de férias. Após repercussão negativa, ele adiantou o retorno e depois pediu desculpas. O tucano foi o principal entusiasta da vacina. Governadores de outros estados reconhecem que, sem as iniciativas dele, o imunizante até hoje não teria chegado ao Brasil.

Falta de leitos também é minimizada – No pior momento da pandemia de Covid-19 no Brasil, com recorde de mortos e a ameaça de colapso no sistema de saúde de diversos estados, o presidente Jair Bolsonaro minimizou no domingo a falta de leitos, dizendo que “a saúde no Brasil sempre teve seus problemas”.

Para Bolsonaro, a situação não é justificativa para fechar o comércio, medida que tem sido adotada por governadores para diminuir o contágio do novo coronavírus. No entanto, medidas mais restritivas, incluindo a imposição de períodos de quarentena estrita, têm sido defendidas por especialistas e ex-ministros da Saúde ouvidos pelo jornal O Globo, como única maneira de frear o contágio e reduzir o número de internações e de mortes no país, que nos últimos dias bateram recordes.

Ao menos 13 estados brasileiros estavam com taxas de internação por Covid-19 acima de 80% nas UTIs da rede pública na sexta-feira, segundo levantamento realizado pelo Globo a partir de informações das secretarias estaduais de Saúde.

A situação ocorre no mesmo momento em que o Brasil registra recordes de mortos: a média móvel de sete dias ficou em 1.180 mortes no sábado, a maior desde o início da pandemia. Os recordes anteriores já haviam sido batidos na semana passada, na quarta e depois na quinta-feira.

Ameaça – Bolsonaro caracterizou as medidas de restrições contra a Covid-19 como “politicalha”. O mandatário disse ainda que o estado que aderir ao fechamento da economia após os novos quatro meses de auxílio emergencial, deverá “bancar” a ajuda. O chefe do Executivo voltou a dizer que o povo quer trabalhar e não aguenta mais ficar em casa. Vários estados estão adotando o lockdown, incluindo o DF por conta do aumento de casos do contágio pelo novo coronavírus e da lotação nas UTIs. “O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e, daqui para frente, o governador que fechar seu estado, o governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxilio emergencial”, afirmou.

Fonte: Com Folha de S.Paulo, O Globo, Correio Braziliense, UOL e Estado de Minas

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