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CNTS debate estudo inédito da Fiocruz que traça perfil dos trabalhadores da saúde

Saúde

Com apoio da CNTS, a pesquisa “Os trabalhadores invisíveis da Saúde” tem por objetivo gerar informações que ajudem na formulação de políticas públicas, no campo da gestão e condições de trabalho do grupo invisibilizado, além de melhorias no Sistema de Saúde. Participaram do debate na noite desta quinta-feira, a coordenadora da pesquisa e os presidentes das federações filiadas à CNTS.

Obter subsídios fundamentais para traçar políticas de gestão do trabalho na saúde, desenvolver ações estratégicas e políticas públicas visando melhorar as condições de trabalho dos profissionais da saúde e do sistema de saúde são alguns dos objetivos do importante estudo da Fiocruz: “Os trabalhadores invisíveis da saúde: condições de trabalho e saúde mental no contexto da Covid-19 no Brasil”. Com este intuito, a CNTS realizou um rico debate com os presidentes das federações filiadas e a coordenadora da pesquisa, Maria Helena Machado, na noite da quinta-feira, 15.

A pesquisa inédita da Fiocruz, que tem o apoio da CNTS, tem como objetivo analisar em profundidade as condições de vida, o cotidiano do trabalho e saúde mental dos trabalhadores de nível médio e auxiliar que atuam na assistência direta ou indiretamente à saúde, apoiando e auxiliando as equipes técnicas na linha de frente no enfrentamento da pandemia, em unidades de saúde de referência nos estados e municípios.

Eles estão nas cozinhas, nas atividades de limpeza, recepção e segurança de hospitais e outras unidades de saúde, conduzem ambulâncias e macas, são técnicos e auxiliares de enfermagem, de Raio-X, de análise laboratorial, de farmácia, agentes comunitários de saúde. Somando são cerca de 2 milhões de trabalhadores e quase 60 profissões de retaguarda, essenciais para o devido funcionamento do sistema de saúde brasileiro, público e privado, mas que são invisibilizados em seu cotidiano.

Durante o debate, a socióloga e pesquisadora da Fiocruz, Maria Helena Machado, afirmou que, neste contexto de pandemia, o estudo se justifica, pois, no atual momento da crise sanitária, a população alvo do estudo, vem sendo contratada pelas instituições para postos de trabalho emergenciais e sem fonte fidedigna de informação sobre os que estão na linha de frente do combate à Covid-19.

Foto: Fiocruz

Maria Helena ressalta que, a partir dos dados e informações gerados na pesquisa, a proposta é contribuir para a melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e trazer à luz da ciência a importância e visibilidade desse contingente essencial para o SUS, seja na rede pública, privada e filantrópica. Ou seja, tirar estes trabalhadores da invisibilidade.

“É claro que profissional de saúde é aquele tem formação específica, seja de nível médio, técnico ou superior. Mas precisamos rever, urgentemente, os conceitos de trabalhador de saúde. Precisamos denominar. Precisamos tornar isto regulamentado. E exigir que estes trabalhadores da saúde tenham leis protetivas e cuidados especiais. Então, para que esta invisibilidade seja revista, precisamos começar com a legalidade destes trabalhadores. Não adianta falar da invisibilidade do maqueiro, do condutor de ambulância, do pessoal da faxina, do pessoal da recepção e continuar tratando estes trabalhadores como fora do escopo da saúde. Sem sindicato, sem representação e sem regulamentação da profissão. Precisamos garantir que, todos aqueles que trabalham na saúde, direta ou indiretamente, sejam considerados da saúde. Isto não pode ficar apenas na conversa. Estamos estudando a possibilidade de apresentar ao Congresso Nacional e aos sindicatos, uma proposta de transformação deste conceito. Pois, este conceito não pode continuar sendo elitista e fechado, com apenas um conjunto de trabalhadores. Não podemos falar para um trabalhador que está na recepção, na vigilância, que faz a comida, que limpa o chão, que ele não é considerado trabalhador da saúde. Então, eles são o quê? Todos que trabalham no setor saúde são trabalhadores da saúde. E eles precisam de legislação própria e específica”, afirmou Maria Helena Machado.

Para o presidente da CNTS, Valdirlei Castagna, a pesquisa realizada pela Fiocruz dará voz e visibilidade a milhares de trabalhadores que são invisíveis não apenas no seu local de trabalho, mas socialmente. “Neste momento de pandemia, quando se fala de trabalhadores da saúde, normalmente fala-se de médicos e enfermeiros. Estes profissionais são muito importantes para a sociedade brasileira, contudo, nós temos 50% da categoria que são os chamados trabalhadores invisíveis. Que abrange desde o porteiro, o vigilante, os que trabalham na higienização e na alimentação, e que, sem eles, os estabelecimentos de saúde não funcionariam. Eles são tão importantes no ambiente de trabalho quanto os profissionais de nível superior. E por serem chamados invisíveis, muitas vezes são esquecidos. E esta pesquisa pretende dar voz, espaço e legalidade a estes trabalhadores. Portanto, a sua opinião como profissional da saúde é de extrema importância. As respostas serão essenciais para melhorar a gestão do sistema de saúde brasileiro, afirma Castagna.

A pesquisa teve início em janeiro, quando o questionário começou a circular, e deverá aguardar respostas dos profissionais até março. A partir de abril, tem início a análise das respostas, à luz de estudos que o grupo de pesquisadores já vêm realizando sobre o tema, e, em maio, os resultados deverão ser divulgados. Participe da pesquisa, clicando aqui.

Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF

Situação dos trabalhadores – Durante o debate, os presidentes das federações filiadas à CNTS revelaram a situação crítica dos trabalhadores da saúde nesta pandemia. Segundo os dirigentes, muitos profissionais estão exauridos, estressados, doentes e com medo, inclusive, muitos estão abandonando os postos de trabalho e pedindo demissão porque não estão dando conta de continuar.

Há, ainda, um elevado número de mortes de profissionais da saúde, bem como de trabalhadores da área de apoio, como serviços administrativos, higienização, alimentação, lavanderias, recepção, entre outros setores que compõem as equipes dos hospitais e casas de saúde. Por estarem na linha de frente, o risco de um trabalhador da saúde se infectar é cinco vezes maior se comparado com outros membros da população.

“Infelizmente, a situação dos trabalhadores ainda é preocupante. Observamos que a quantidade e qualidade dos EPIs disponibilizados aos trabalhadores ainda são insuficientes. Estes profissionais estão doentes e não assistidos. No Alagoas, temos exemplos de hospitais que afastaram profissionais com comorbidades, mas, após a segunda dose da vacina, chamaram estes profissionais de volta aos postos de trabalho, porém, os obrigando a pagar o tempo que ficaram em casa em decorrência de suas comorbidades. Por conta disto, foi necessário judicializar a questão. Pois, o decreto de calamidade pública e as decisões da Justiça determinaram o afastamento imediato dos trabalhadores de riscos e portadores de comorbidades do trabalho”, afirmou o presidente da Fetessne e do Sateal, Mário Jorge Filho.

O debate contou com a participação também do presidente da Feessers, Milton Kempfer; da presidente da FEESSRJ, Maria Barbara da Costa; da presidente da Fetessesc, Maria Salete Cross; do secretário-geral da Fenattra, Ubiratan Gonçalves; e do presidente da Feessaúde/MS, Osmar Gussi; e da coordenadora do Núcleo de Disseminação Científica do PMA – Fiocruz, Isabella Koster. Para ver o debate na íntegra, clique aqui.

Uma opinião sobre “CNTS debate estudo inédito da Fiocruz que traça perfil dos trabalhadores da saúde

  • Maria Conceição Proença

    Parabenizo a Dra Maria Helena Machado e demais pesquisadores pela relevância da pesquisa e inclusão de todos os profissionais que atuam em saúde sejam considerados profissionais de saúde sem distinção, o trabalho destes nossos colegas são tão importantes e fundamentais quando a equipe de enfermagem, médicos, farmacêuticos. Reconhecimento, valorização e visibilidade a todos que trabalham na saúde pela importante e fundamental atuação dia e noite. Sábado, Domingos e feriados, com carga horária exaustiva e baixos salários.

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