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Bolsonaro impõe e Ministério da Saúde libera cloroquina para todos pacientes com Covid-19

Saúde

Documento recomenda a prescrição do medicamento desde os primeiros sinais da doença causada pelo coronavírus. E exige que pacientes assinem termos se responsabilizando por riscos.

Diante da recusa de dois ministros da Saúde, que optaram por pedir demissão para não assinar o documento, coube ao general Eduardo Pazuello, que assumiu a pasta de forma interina, liberar a cloroquina para todos os pacientes de Covid-19. Em documento divulgado nesta quarta-feira, 19, com o novo protocolo, o Ministério recomenda a prescrição do medicamento desde os primeiros sinais da doença causada pelo coronavírus. O próprio texto, porém, reconhece que não há evidências suficientes de eficácia, e o termo de consentimento do paciente cita risco de agravamento da condição clínica.

Até então, o protocolo adotado pelo Ministério da Saúde previa o uso do medicamento apenas por pacientes graves e críticos e com monitoramento em hospitais.

A decisão ocorre após diversos estudos mostrarem que os medicamentos não só não têm efeito contra a Covid-19 como podem aumentar o risco cardíaco. Entidades médicas também contraindicaram o medicamento para tratamento da Covid-19. A Organização Mundial da Saúde – OMS afirmou ontem, 19, que não há provas de que a hidroxicloroquina ou qualquer outro medicamento possa curar ou prevenir a Covid-19 e que o uso inapropriado da hidroxicloroquina por causar efeitos colaterais graves que podem levar à morte.

Vários estudos comprovam a ineficácia do medicamento – Um dos maiores estudos feitos até agora não encontrou redução de mortalidade por Covid-19 entre pessoas que foram medicadas com hidroxicloroquina. A pesquisa observacional com 1.438 pacientes de Nova York foi publicada no dia 11 de maio na revista Jama, da Associação Médica Americana, um dos principais periódicos médicos do mundo.

Outra grande pesquisa observacional, com 1.376 pacientes de Nova York e publicada na prestigiosa revista científica The New England Journal of Medicine no dia 7 de maio, também apontou que não foram encontradas evidências de que o uso da hidroxicloroquina reduza mortes ou intubações.

O novo protocolo do Ministério da Saúde prevê a indicação de cloroquina ou hidroxicloroquina com azitromicina com dosagens diferentes conforme a sequência do tratamento e o quadro do paciente. Essa combinação de medicamentos foi justamente a contraindicada pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (Niaid, na sigla em inglês) no fim de abril por causa de sua potencial toxicidade.

O presidente – que tem defendido repetidas vezes a necessidade de reabrir a economia mesmo quando a curva de contágios ainda segue crescente e o país já ultrapassa o registro de 1.000 mortes diárias – tem dito que cabia a ele a decisão e que, embora no futuro a ciência possa concluir que a cloroquina tinha apenas um efeito placebo, ele quer que o próprio paciente decida se será tratado com o medicamento. Bolsonaro não comentou os efeitos colaterais graves que a cloroquina pode causar e voltou a polarizar seu uso. “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma Tubaína”, chegou a declarar, rindo, em uma entrevista online ontem, 19, quando o país ultrapassou mil mortes por dia em decorrência do coronavírus.

Protocolo exige que pacientes assinem termos se responsabilizando por riscos – Apesar da nova indicação, o próprio documento reconhece que não há evidências suficientes de eficácia. Para justificar a ampliação do uso da cloroquina, o texto cita “larga experiência” do remédio para outras doenças e a falta de outro tratamento disponível para a Covid-19. O protocolo deixa a prescrição a critério médico e após análise de exames.

“Apesar de serem medicações utilizadas em diversos protocolos e de possuírem atividade in vitro demonstrada contra o coronavírus, ainda não há meta-análises de ensaios clínicos multicêntricos, controlados, cegos e randomizados que comprovem o beneficio inequívoco dessas medicações para o tratamento da Covid-19”, diz o protocolo. “Assim, fica a critério do médico a prescrição, sendo necessária também a vontade declarada do paciente”, completa.

Para isso, o paciente deve assinar um termo de consentimento que afirma que a cloroquina e hidroxicloroquina podem causar efeitos colaterais “como redução dos glóbulos brancos, disfunção do fígado, disfunção cardíaca e arritmias, e alterações visuais por danos na retina”.

O termo de consentimento afirma ainda que “não existe garantia de resultados positivos, e que o medicamento proposto pode inclusive agravar a condição clínica, pois não há estudos demonstrando benefícios clínicos”.

Por outro lado, diz que a cloroquina e a hidroxicloroquina são medicamentos disponíveis há muitos anos para prevenção e tratamento da malária e outras doenças e que “um estudo francês mostrou que a eliminação do coronavírus da garganta de portadores da Covid-19 se deu de forma mais rápida com a utilização da combinação de hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina, quando comparados a pacientes que não usaram as drogas”.

“Entretanto, não há, até o momento, estudos demonstrando melhora clínica dos pacientes com Covid-19 quando tratados com hidroxicloroquina”, completa o termo, que deve ser assinado pelo médico e paciente.

Fonte: Com Estadão, Folha de São Paulo e El País

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