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Foto: Pixabay

Autoridades alertam que cloroquina não é garantia de cura do coronavírus

Saúde

Medicamento usado contra malária e doenças autoimunes tem sido promovido por Donald Trump e Jair Bolsonaro como saída para a Covid-19, mas estudos ainda não foram concluídos. Um homem morreu após tomar cloroquina nos Estados Unidos.

São falsas as informações que circulam nas redes sociais sobre a garantia de cura de 100% dos pacientes diagnosticados com o novo coronavírus tratados com os medicamentos cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina associados. Na verdade, ainda não há comprovação da eficácia e da segurança dos remédios no combate à doença.

Segundo as publicações erradas, os medicamentos começaram a ser usados pelo HCor – Hospital do Coração e pela rede Prevent Senior na semana passada. Uma pessoa afirma em áudio que circula em grupos de WhatsApp de que isso deve mudar os “rumos da doença”, o que ainda não é realidade.

Em nota divulgada na segunda-feira, 23, o HCor afirma que ainda vai iniciar nesta semana pesquisas para avaliar a eficácia e segurança de hidroxicloroquina e azitromicina no tratamento de pacientes com a Covid-2019. O resultado dos testes só ficará disponível em um período de 60 a 90 dias.

Ainda segundo a nota, o trabalho é resultado de aliança entre o Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Sírio Libanês e BRICNet – Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva, além do HCor, em parceria com o Ministério da Saúde. Participarão do estudo de 40 a 60 hospitais.

Na semana passada, a Prevent Senior também divulgou o início de pesquisa usando os medicamentos em pacientes com a doença diagnosticada. Segundo a rede, o método ainda é experimental. “Será feito apenas com paciente em estado crítico e cujos familiares nos derem o seu consentimento”, afirmou Claudia Lopes, gerente médica da Prevent Senior, em vídeo divulgado pela rede.

A Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária enquadrou a hidroxicloroquina e cloroquina como medicamentos de controle especial. Em nota, a entidade afirmou que recebeu relatos de que a procura pelos medicamentos aumentou depois que algumas pesquisas indicaram que estes produtos podem ajudar no tratamento da Covid-19. Os estudos, porém, são preliminares e carecem de comprovação científica.

“Apesar de alguns resultados promissores, não há nenhuma conclusão sobre o benefício do medicamento no tratamento do novo coronavirus”, afirmou a Anvisa. A falta dos produtos pode deixar os pacientes com malária, lúpus e artrite reumatoide sem os tratamentos adequados.

Promoção do medicamento – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, destacou, na última semana, a cloroquina e a hidroxicloroquina como compostos promissores para prevenção ou tratamento da Covid-19. Trump disse ainda que seu governo simplificou os procedimentos da Administração de Alimentos e Medicamentos – FDA, na sigla em inglês – para que possam liberar o medicamento rapidamente.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, seguiu a mesma linha, anunciando que o Exército aumentaria a produção do remédio. A divulgação de estudos apontando para a eficácia da cloroquina levou a uma corrida de brasileiros para farmácias. A Anvisa teve que restringir a venda da droga para pacientes com receitas pelos próximos 30 dias. Além disso, a exportação também foi proibida. “Ninguém vai poder tirar da farmácia para guardar para usar contra o coronavírus. Este medicamento tem uma série de efeitos colaterais graves. Obviamente ele só pode ser usado com prescrição médica e o paciente tendo consciência do risco que ele tem”, afirmou secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis.

Efeitos – Um homem de 60 anos morreu e sua esposa, com a mesma idade, foi hospitalizada nos Estados Unidos no último domingo após se automedicarem ingerindo uma forma de cloroquina. Autoridades da Nigéria informaram que ao menos duas pessoas foram intoxicadas por uso de cloroquina no estado de Lagos, na sexta-feira, 20.

Segundo a National Public Radio, organização americana de mídia sem fins lucrativos, o hospital onde o casal ficou internado, em Phoenix, Arizona, informou que o homem e a mulher ingeriram “fosfato de cloroquina, aditivo comumente usado em aquários para limpar tanques de peixes”. O aditivo para aquário que o casal ingeriu, portanto, não seria o mesmo que o medicamento usado no tratamento da malária, cujo uso é investigado para tratar coronavírus.

“Trinta minutos após a ingestão, o casal apresentou efeitos que exigiam internação”, afirma o comunicado do hospital, de acordo com a NPR. Entre os efeitos, náusea e vômitos. Ainda segundo o informe, o homem morreu de parada cardíaca e a mulher foi internada em estado crítico. Eles não foram testados para o coronavírus.

O diretor da rede Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, destacou que a automedicação não deve ser feita porque pode ser fatal. “Essa medicação não é corriqueira, não se deve tomar porque ela é tóxica. A diferença entre o veneno e a medicação é a dose. Dependendo da dose, pode matar”, afirmou.

Ele reforçou que a notícia dos estudos não deve estimular a procura e o uso desenfreado do remédio. “A cloroquina é utilizada há mais de 30 anos no Brasil para tratamento da malária, lúpus e de alguns tipos de artrite. Só que, com as falas das autoridades, houve uma corrida desnecessária em busca dele nas farmácias. A cloroquina não deve ser utilizada nesse momento nem para tratamento, nem para prevenção”.

Fonte: Com Folha de São Paulo, O Globo, Jovem Pan e Rede Brasil Atual

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