Teich diz que deixou cargo por falta de autonomia e por não aceitar cloroquina
CPI da Covid
Sucessor de Mandetta se queixou de falta de 'autonomia' em depoimento a senadores sobre sua gestão à frente do Ministério da Saúde durante a pandemia.
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse nesta quarta-feira, 5, em depoimento à CPI da Pandemia que deixou o governo por ter percebido que não teria autonomia para conduzir a pasta. Ele afirmou que não sabia da produção de cloroquina pelo Exército e que sua orientação sempre foi contrária ao uso desse e de outros medicamentos sem comprovação científica no enfretamento da crise sanitária. Segundo Teich, que ficou menos de um mês no cargo, “existia um entendimento diferente pelo presidente” Jair Bolsonaro, fato que motivou sua saída do comando da pasta.
“Essa falta de autonomia ficou mais evidente em razão das divergências com o governo quanto à eficácia e extensão da cloroquina no tratamento de Covid-19. Enquanto minha convicção pessoal, baseada em estudos, era de que naquele momento não existe eficácia para liberar, existia um entendimento diferente do presidente, que era amparado por outros profissionais, até pelo Conselho Federal de Medicina. Isso foi o que motivou minha saída. Sem liberdade de conduzir o Ministério conforme minhas convicções, decidi deixar o cargo”, disse Teich.
Em resposta ao relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), o ex-ministro afirmou que nunca foi consultado sobre a produção e distribuição de cloroquina, mas não descartou que possa ter ocorrido, mas “nunca sob minha orientação”, apontou.
O ex-ministro, que é médico oncologista, reforçou que seu posicionamento se estende a outros medicamentos sem comprovação e ressaltou que a cloroquina tem efeitos colaterais.
Conselho Federal de Medica – Teich avaliou como inadequada a postura do Conselho Federal de Medicina – CFM, que liberou no ano passado o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19 em três situações. “É uma postura inadequada, porque pode estimular o uso de um remédio que a gente não tem comprovação e em condições de o paciente pode estar mais exposto ao não ter cuidados necessários para o uso do medicamento, então minha posição é contrária”, disse.
Em abril de 2020, o presidente do Conselho, Mauro Ribeiro, disse que não existe nenhuma evidência científica forte que sustente o uso da hidroxicloroquina, no entanto, em função de estudos observacionais, libera o medicamento em três casos, desde que haja consentimento do paciente e que médico alerte sobre a eficácia não comprovada e efeitos colaterais já observados do uso do remédio.
Atividades essenciais – Em 11 de maio de 2020, o presidente Jair Bolsonaro editou decreto que incluiu academias de ginástica e serviços como salões de beleza e barbearias como serviços essenciais. A lista engloba atividades que poderiam funcionar no atual estado de calamidade pública, causado pela pandemia de Covid-19.
A informação foi dada enquanto Teich dava uma coletiva de imprensa no Ministério da Saúde. Na ocasião, um repórter o questionou sobre a nova inclusão das atividades essenciais, e o ex-ministro disse que não estava sabendo. O tema foi lembrado por senadores durante depoimento na CPI.
“No decreto dizia que teria que acontecer de acordo com a orientação do Ministério da Saúde. Obviamente, esse tipo de discussão deveria ter sido prévio. Eu acho que ali foi uma coisa que poderia ser tido, a forma, mais estruturada”, diz Teich.
O ex-ministro acredita, ainda, que Eduardo Pazuello, então secretário-executivo e presente na coletiva de imprensa, também não sabia da mudança feita por Bolsonaro. “Pela reação, acho que ele também não sabia. A minha impressão era de ele não sabia. Nunca aconteceu nada que me apontasse o contrário”.
Teich disse, mais cedo, que durante sua gestão, as coletivas de imprensas foram reduzidas, mas nunca com o objetivo de cercear a transparência das informações.