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Foto: Ministério da Saúde

Na pandemia, governo reduz Farmácia Popular, que trata comorbidades da Covid

Saúde

Criado no governo Lula, o Farmácia Popular distribui gratuitamente medicamentos contra a pressão alta, diabetes, asma e outras comorbidades de risco para a Covid-19. Reportagem da Folha aponta que o orçamento do programa para este ano foi reduzido para R$ 2,5 bilhões. Em 2020 era de R$ 2,7 bilhões, em valores corrigidos pela inflação.

O governo de Jair Bolsonaro tem esvaziado o programa Farmácia Popular, que distribui gratuitamente medicamentos para o controle da pressão alta, diabetes, asma e outras doenças crônicas muito comuns. Esses problemas, aliás, considerados comorbidades, estão associados ao agravamento de casos de Covid-19. No ano passado, quando surgiu a pandemia causada pelo novo coronavírus, foram distribuídos medicamentos para 20,1 milhões de pessoas em todo o país. Uma diminuição de 1,2 milhão em relação ao ano anterior. É também a menor cobertura desde 2014.

Os dados são do Ministério da Saúde, obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação. Reportagem do jornal aponta que o orçamento do programa sofreu uma redução. No ano passado, foram reservados R$ 2,7 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. Para este ano, a verba é de R$ 2,5 bilhões mesmo com o agravamento da pandemia.

O corte contrasta com a verba turbinada aprovada pelo Congresso para emendas parlamentares, no valor de R$ 48,8 bilhões, principalmente na área de obras do governo. Emendas são formas de um deputado ou senador direcionar recursos para projetos com impacto direto nas bases eleitorais e, assim, conquistar capital político para as próximas eleições.

Criado em 2004, a Farmácia Popular distribui medicamentos básicos gratuitamente para hipertensão, diabetes e asma por meio de farmácias privadas conveniadas. Remédios para controle de rinite, mal de Parkinson, osteoporose e glaucoma, além de anticoncepcionais, são vendidos com desconto de até 90%.

Para o presidente do Conasems – Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Willlames Freire Bezerra, a Farmácia Popular amplia o acesso a medicamentos de pessoas com comorbidades, que, sem o programa, têm que ir a um local de tratamento de Covid, como hospitais públicos, para tentar conseguir o remédio pela rede pública de saúde.

“O programa reduz o valor dos medicamentos para os mais carentes e também melhora o acesso [aos remédios] num momento de pandemia em que a população está com dificuldade financeira e de locomoção”, disse Bezerra, que é secretário municipal de Pacatuba/CE.

A quantidade de farmácias também caiu no ano passado para 30.988 unidades. Esse é o menor patamar desde 2013. Em 2015, auge da rede de atendimento, eram 34.625 farmácias.

Novas farmácias estão impedidas de se cadastrarem no programa desde dezembro de 2014. Na época, o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) suspendeu o credenciamento por já ter atingido a meta de rede de cobertura daquele ano. O processo, porém, não foi reaberto até hoje. Procurado, o Ministério da Saúde informou que não há prazo para retorno do credenciamento. As unidades conveniadas recebem reembolso do governo federal pelos medicamentos distribuídos por meio do programa.

Tentativa de acabar com o Programa – Desde o início do governo, a equipe de Bolsonaro coloca a Farmácia Popular na lista de programas a serem encerrados. O objetivo, segundo integrantes do time do ministro da Economia, Paulo Guedes, é usar esse recurso público em outras ações.

Quando o governo buscava verba para bancar um novo programa social, após eventual reformulação do Bolsa Família, uma das possibilidade foi acabar com a ação da Farmácia Popular. Esses estudos foram feitos no ano passado, ou seja, em meio à pandemia do coronavírus.

“A Farmácia Popular não pode acabar. É o tratamento de doenças que precisam de medicação contínua. Sem a medicação, o quadro pode se agravar e chegar a uma internação hospitalar, que tem um custo muito mais elevado para o sistema de saúde”, disse a deputada, Carmen Zanotto (Cidadania-SC), que preside a Frente Parlamentar Mista da Saúde no Congresso.

Não são apenas os recursos para a distribuição para a população de baixa renda que estão sendo cortados. O número de farmácias parceiras também caiu em 2020. Passou para 30.988 unidades. É o menor patamar desde 2013. Em 2015, auge da rede de atendimento, eram 34.625 postos em todo o país.

Com isso, a presença do Farmácia Popular vem minguando nos municípios. Em 2016 eram 4.467 municípios atendidos. Atualmente, o programa chega em 4.394 deles, que corresponde a 80% do total de municípios do país.

O programa sofreu duro golpe em 2017, quando o então presidente Michel Temer (MDB-SP) fechou todas as unidades próprias do programa Farmácia Popular mantidas com recursos do Ministério da Saúde. Eram cerca de 400 pontos de atendimento, inclusive em cidades que não tinham farmácia privada credenciada na outra modalidade. A rede própria da Farmácia Popular, além disso, distribuía uma variedade maior de medicamentos – 112 medicamentos, contra 32 disponíveis nas drogarias privadas conveniadas.

O argumento, na época, foi que os repasses para as unidades próprias da Farmácia Popular acabaram para melhorar a gestão, porque dos R$ 100 milhões gastos por ano, R$ 80 milhões eram custos administrativos. O valor, porém, é pequeno em relação ao total disponível para o programa. O corte nas cidades atendidas se deu principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

Fonte: Folha de S. Paulo

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