Mortes de profissionais da saúde por Covid-19 despencam após vacina, indicam estudos
Saúde
Levantamentos preliminares mostram que a vacinação da categoria, iniciada em janeiro deste ano, começa a surtir efeito. Conselho Federal de Medicina apontou queda de 83% nas mortes de profissionais de saúde pela Covid após vacinação. HC de São Paulo registrou queda de 73,8% nos casos. Porém, dados do Cofen ainda não refletem queda no número de óbitos da categoria.
Levantamentos preliminares de casos e mortes por Covid-19 entre profissionais de saúde mostram que a vacinação da categoria, iniciada em janeiro deste ano, começa a surtir efeito. Não há estudos conduzidos apenas com imunizados, e os parâmetros de avaliação divergem entre diferentes instituições, mas o avanço da imunização traz alento e esperança a quem trabalha na linha de frente do combate à doença.
O Conselho Federal de Medicina – CFM, por exemplo, aponta uma queda de 83% no número de médicos mortos em março, na comparação com janeiro, período em que grande parte dos profissionais de saúde começou a ser vacinada. Em janeiro, 59 profissionais morreram no país, confirme o CFM. Em fevereiro, o número caiu para 24 e, em março, foram apenas 10. “São trabalhos muito iniciais, mas sinalizam um caminho de melhora, como ocorreu em outros países”, diz Helena Carneiro Leão, vice-corregedora do CFM.
Queda no número de casos – No Ceará, levantamento da Escola de Saúde Pública do estado concluiu que a vacinação fez despencar os casos de infecção nos profissionais de saúde após a aplicação das duas doses da vacina CoronaVac, impedindo que a segunda onda da pandemia se disseminasse entre a categoria.
Enquanto na população do estado foram notificados 32.768 casos entre 8 e 14 de março – 74,6% a mais do que no pico de 2020 –, entre os profissionais de saúde houve queda de 72%, com apenas 355 infecções registradas. No estado, 238 mil funcionários do setor – 93,5% do total – já receberam as duas doses da CoronaVac.
Superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará, Marcelo Alcântara avalia que houve tempo para a imunização ocorrer antes da nova onda, no fim de fevereiro. “Entre os profissionais de saúde não temos uma segunda onda, e a única diferença entre um grupo e outro é a vacinação. Isso é sinal de que a imunização funcionou muito bem”, diz ele.
Em alguns estados é possível observar que a disseminação da doença entre profissionais de saúde está menor do que na população em geral. Em Pernambuco, enquanto os casos confirmados de Covid-19 entre trabalhadores na saúde caíram 9% em março em relação a janeiro, na população em geral houve alta de 27%.
Na Bahia, os casos confirmados no estado cresceram 25,8% em março, se comparados a janeiro. Entre os profissionais de saúde, houve uma queda de 24,4%.
No Paraná, segundo dados da Secretaria de Saúde, em dezembro de 2020 os profissionais de saúde representavam 3,4% dos casos positivos. No dia 31 de março, correspondiam a 2,3% dos casos.
No Hospital das Clínicas de São Paulo, onde mais de 20 mil funcionários foram vacinados, houve redução de casos, com efetividade de até 73,8%. Na terceira semana de janeiro, quando começou a imunização, foram registrados 16,2 mil novos casos de Covid-19 na cidade, enquanto no complexo hospitalar, houve 51. Na última semana de março, os casos no município alcançaram 23,9 mil, mas no HC foram 46. Segundo o hospital, sem a vacina, o número poderia ter ultrapassado 175.
No hospital Sírio Libanês, houve redução de 30% no absenteísmo – ausências ou afastamentos – de funcionários da linha de frente, por Covid-19 ou síndromes gripais, se comparados os períodos pré e pós imunização. “É uma redução sensacional, pois aumentamos a presença de pacientes, de colaboradores, e, ainda assim, reduzimos o afastamento”, afirma Octávio Augusto Camilo de Oliveira, Coordenador Médico da Saúde do Colaborador. Segundo ele, de janeiro para cá, o hospital ampliou o número de leitos dedicados a pacientes com Covid-19 e contratou 900 funcionários.
Na Santa Casa de Araraquara, município paulista onde 93% dos casos são da variante brasileira P.1 do vírus, levantamento com 980 profissionais de enfermagem e apoio, excluindo médicos e residentes, mostrou apenas dois casos desde 10 de março passado.
É preciso lembrar que, em média, no caso da CoronaVac, o sistema imune produz anticorpos suficientes apenas a partir do 15º dia da aplicação da segunda dose. “Houve redução drástica de novas infecções depois da imunização. Isso demonstra a efetividade da vacina, principalmente num grupo de risco, que são os que lidam com os casos mais graves da doença”, diz Rogério Bartkevicius, diretor geral da Santa Casa.
Dados do Conselho Federal de Enfermagem – Cofen, porém, ainda não refletem queda no número de óbitos da categoria. Nos três primeiros meses do ano, foram 275 mortes, uma média de 91,6 casos por mês. Em 2020, segundo Eduardo Fernando de Souza, coordenador do Comitê Gestor de Crise do Cofen, foram 468 óbitos. “O adoecimento é maior do que o ritmo da vacinação. Temos profissionais de enfermagem sendo vacinados ainda. O desrespeito ao isolamento social expõe a categoria. Se a população adoece, os enfermeiros adoecem junto”, critica Souza.
Efeito em idosos – No Distrito Federal, as internações em UTI Covid para idosos com mais de 80 anos apresentaram queda de 59% em abril, quando comparadas com janeiro, segundo a Secretaria de Saúde. No Rio Grande do Sul, houve redução em março – 678 internados em relação a fevereiro – 932, mas janeiro teve o menor número: 609.