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Foto: Gustavo Magalhães/MRE

Ernesto Araújo atuou para garantir cloroquina e deixou vacinas em segundo plano

Política

Segundo documentos obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo, Bolsonaro solicitou ao primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, a liberação de lotes de hidroxicloroquina para 'salvar muitas vidas no Brasil'. Por outro lado, o empenho para adquirir vacinas foi bem menor. Até novembro de 2020, não houve, por parte do Ministério, instruções para os diplomatas negociarem o fornecimento de vacinas ou insumo

O ex-chanceler Ernesto Araújo mobilizou o aparato diplomático do Brasil para garantir fornecimento de cloroquina ao país, mesmo após a Organização Mundial da Saúde – OMS ter interrompido testes clínicos com a droga e depois de associações médicas terem alertado para a ineficácia e o risco de efeitos colaterais.

Isso é o que revelam telegramas diplomáticos obtidos pela Folha e informações de pessoas envolvidas nas negociações. O ex-ministro, que pediu demissão no fim de março, será ouvido na CPI da Covid na próxima quinta, 13, para explicar se houve prejuízo na aquisição de insumos e vacinas por causa da política externa de sua gestão.

Segundo a reportagem, Araújo pediu, em março de 2020, aos diplomatas brasileiros que tentassem “sensibilizar o governo indiano para a urgência da liberação da exportação dos bens encomendados pelas empresas antes referidas [EMS, Eurofarma, Biolab e Apsen] e outras que se encontrem em igual condição, cujo desabastecimento no Brasil teria impactos muito negativos no sistema nacional de saúde”. Na época, o governo da Índia havia restringido a exportação de cloroquina.

Um dia antes do pedido, a Prevent Senior e o hospital Albert Einstein tinham anunciado estudos para saber se a cloroquina poderia ser eficaz contra a xovid-19. A pesquisa do Albert Einstein, publicada em julho, concluiu que o medicamento não tem nenhum benefício para os infectados pela doença e que o uso dela pode causar alterações no fígado e no coração. Já a da Prevent Senior apontou redução no número de internações, porém, a pesquisa foi colocada em dúvida pela comunidade científica por não seguir padrões aceitáveis.

Em 4 de abril, um dos telegramas mostram que o presidente Jair Bolsonaro chegou a conversar com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em que o presidente teria dito que o Brasil teve resultados animadores com o uso da cloroquina, mesmo não existindo nenhum estudo que comprovasse isso.

Em março não foi a única interferência do então ministro, durante todo o mês de abril ele tentou a obtenção do remédio para o Ministério da Saúde e os pedidos continuaram em junho, quando a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira já haviam desaconselhado o uso da cloroquina em pacientes da covid-19. Estudos têm demonstrado que o uso da cloroquina pode ter aumentado a quantidade de infecções pela covid-19 pela falsa sensação de segurança.

Vacinas – Segundo a reportagem, por outro lado, houve um baixo empenho por parte do Itamaraty para conseguir imunizantes contra a Covid-19 da China. Até novembro de 2020, o Ministério não havia enviado instruções específicas para diplomatas prospectarem potenciais fornecedores de vacinas ou medicamentos na China, segundo pessoas envolvidas em negociações.

A China é o país que mais produz imunizantes contra a Covid e foi alvo de ataques constantes durante a gestão de Ernesto. O país tem cinco vacinas aprovadas pelas autoridades sanitárias locais, entre elas a da gigante Sinopharm – ainda que os produtos chineses tenham eficácia menor do que os da Pfizer e da Moderna, por exemplo.

Das chinesas, o Brasil só usa a Coronavac, da Sinovac, produzida em parceria com o Instituto Butantan, em acordo fechado pelo governador de São Paulo, João Doria. Mais de 80% das doses administradas no Brasil são de Coronavac. Segundo pessoas envolvidas na negociação, houve apenas pedidos vagos de informação sobre os desenvolvimentos na área de vacinas, mas nenhuma orientação ativa para obter imunizantes, ao contrário do que foi feito com a cloroquina.

Só a partir deste ano a embaixada do Brasil na China foi acionada para fazer gestões pela liberação de insumos para a produção de vacinas da AstraZeneca.

CPI da Covid – Ernesto Araújo será um dos próximos ouvidos na CPI da Covid, no Senado, como testemunha. Ele irá falar sobre as tratativas. O colegiado aprovou internacionais durante a pandemia. Os senadores querem saber como foi a atuação do Brasil para conseguir vacinas e se questões ideológicas influenciaram neste processo. O ex-ministro será ouvido em 18 de maio, um dia da participação do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Fonte: Folha de S.Paulo e Correio Braziliense

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