Brasil tem mais mortes por Covid em uma semana do que EUA, México, Itália e Rússia somados
Pandemia
País supera sozinho as outras quatro nações com mais vítimas do novo coronavírus atualmente juntas. Brasil concentrou 26,7% de todos os novos óbitos do mundo e voltou a superar a União Europeia.
O Brasil teve mais mortes por Covid-19 nos últimos sete dias do que Estados Unidos, México, Itália e Rússia somados, apontam dados do Our World in Data desta segunda-feira, 29. O país registrou 18.164 óbitos, contra 16.031 dos outros quatro com mais óbitos na semana passada –6.787 nos Estados Unidos, 3.587 no México, 2.991 na Itália e 2.666 na Rússia.
Estados Unidos, México, Itália e Rússia têm somados mais de 650 milhões de habitantes, mais que o triplo da população brasileira, 209 milhões.
Os 10 países com mais mortes por Covid nos últimos 7 dias: Brasil: 18.164; Estados Unidos: 6.787; México: 3.587; Itália: 2.991; Rússia: 2.666; Polônia: 2.584; França: 2.321; Espanha: 2.100; Ucrânia: 2.057 e; Índia: 1.876.
Com 1.605 mortes nas últimas 24 horas, o Brasil atingiu um novo recorde na média de óbitos pelo terceiro dia consecutivo. A alta é de 40% na comparação com a média de 14 dias atrás.
26,7% das mortes do mundo – Sozinho, o Brasil respondeu por 26,7% de todas as 68.002 novas vítimas do coronavírus do mundo e voltou a superar a União Europeia – 17.887, que reúne 27 países da Europa. Com 446 milhões de habitantes, o bloco europeu tem mais que o dobro da população brasileira.
O Brasil também registrou quase o dobro de mortes do que a Ásia – 7.716 e a África – 2.010 somadas. Juntos, os dois continentes têm quase 5,5 bilhões de habitantes – mais de 70% da população mundial.
A África tem 930 milhões de habitantes, quase o quádruplo da população brasileira, e a Ásia tem 4,5 bilhões de pessoas, mais de 21 vezes o número de habitantes do Brasil.
Falta de leitos de UTI – Além da dramática escalada de mortes por Covid-19, outro drama ganhou uma proporção maior no período: a fila de pacientes infectados pelo coronavírus à espera de um leito hospitalar. Enquanto as autoridades vêm anunciando seus esforços para ampliar o sistema de saúde e as taxas de ocupação até indicam uma pequena margem para receber pacientes, na prática, a constatação é de que a estrutura não tem dado conta da demanda crescente.
Mais de 6 mil pessoas aguardavam especificamente por uma vaga em unidades de terapia intensiva em todo o país na semana passada. Nem mesmo São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, escapa do caos no pior momento da crise sanitária. Na última quinta-feira, 25, ao menos 1.040 pessoas esperavam por um leito de UTI ou de enfermaria exclusivos para Covid-19 em hospitais municipais e, embora todos os dias cerca de 200 vagas sejam abertas ou desocupadas, a fila de espera não fica abaixo de 1.000 pessoas há cerca de duas semanas. Morrer sem ter chance a um atendimento adequado para tratar a doença é uma realidade e especialistas apontam a urgência de estancar o contágio com o endurecimento das medidas de distanciamento social – enquanto a vacinação caminha lentamente – é a única saída para minimizar a crise.
O papel do colapso na alta mortalidade – O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, afirmou em entrevista coletiva na semana passada que as UPAs têm cumprido um papel importante para desafogar a pressão nos hospitais, já lotados. E admitiu que há pessoas morrendo de Covid-19 nos mais diversos tipos de unidades de saúde da cidade, inclusive UPAs e AMAs. “Óbitos têm ocorrido pela criticidade dos casos, não por falta de leitos de UTI”, justificou. “Equipamos todas as nossas UPAs para que tenham serviço de terapia intensiva para atender”, afirmou o secretário, citando a variante brasileira P1 como uma das causas para a elevada mortalidade, já que a cepa é potencialmente mais transmissível e pode provocar quadros mais graves. Mas, nesta equação, outro fator é considerado pelo médico intensivista e integrante do Conselho Consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB, Ederlon Rezende: as condições precárias de assistência em um sistema de saúde colapsado.
Segundo Rezende, que atua no projeto UTIs Brasileiras e monitora dados de hospitais públicos e privados de todas as regiões do país, houve um aumento de 18% na mortalidade de pacientes em terapia intensiva entre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro em relação ao trimestre anterior. “Estamos cheios de leitos de UTI improvisados. É o ônus do colapso do sistema. Morrem pessoas que em condições normais não morreriam”, afirma. “Podemos considerar que é melhor ter leito montado na UPA para as pessoas não morrerem sem assistência na rua, mas longe de achar que elas estão recebendo a assistência que precisariam”.