A irresponsabilidade de Bolsonaro, em plena crise do coronavírus, põe população em risco
Saúde
Com 11 membros de sua comitiva infestados, o presidente descumpre protocolo médico em apoio a manifestações que afrontam a Constituição. E como desgraça pouca é bobagem, Bolsonaro fala que há histeria e extremismo no combate à doença e que isso seria prejudicial à economia e ao país.
O presidente Jair Bolsonaro dá uma banana para a saúde pública em plena crise mundial do coronavírus e ameaça o trabalho do Ministério da Saúde. E o pior de tudo é que nada ou ninguém, na atual conjuntura política, parece capaz de pará-lo antes que seja tarde. Enquanto a pasta de Luiz Henrique Mandetta tenta conduzir o país com alguma serenidade rumo aos dias difíceis que provavelmente virão, o presidente brinca com a saúde da população e ignora todas as recomendações dos profissionais da saúde para que pessoas evitem contato social, a fim de retardar a pandemia.
O auge do delírio autoritário que nos acomete aconteceu neste domingo, 15. Mesmo com a expressa determinação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde para evitar aglomerações, especialmente no Rio e em São Paulo, o presidente deixou o isolamento no Palácio da Alvorada e junto com o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, Antonio Barra Torres, abraçou manifestantes em meio ao surto do vírus. Bolsonaro esteve exposto à doença. Seu secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, testou positivo para a covid-19 depois que eles retornaram de uma viagem aos Estados Unidos. Outros 10 membros da comitiva que esteve na viagem testaram positivo para o coronavírus.
O presidente da República torna-se, dessa forma, inimigo do próprio sistema de saúde do país, que tenta explicar às pessoas que elas devem evitar aglomerações a fim de reduzir a velocidade da infecção.
A pasta tenta impedir um tsunami de gente procurando postos e unidades básicas de saúde e hospitais, tornando impossível atender aos afetados pelo Covid-19 e, ao mesmo tempo, cuidar de pacientes de outras doenças e emergências. Se os infectados vierem em “prestações”, o sistema ficará menos sobrecarregado e não será necessário escolher quem será atendido ou não. Ou seja, no limite, quem vive e quem morre.
Bolsonaro prova mais uma vez que pensa somente em si, em sua família e no naco de seus fãs que pertencem à classe mais abastada. Pois se forem infectados, terão o melhor tratamento de saúde do país à sua disposição. Coisa que não vai acontecer com quem depende do SUS, com leitos em número insuficiente para fazer frente à crise.
O coronavírus não tem preferência por pobres ou ricos, mas o Brasil, sim, ostentando um déficit de estrutura de atendimento no sistema público, que é responsabilidade de todos os governos até agora, inclusive o dele.
No Brasil, há pelo menos 200 casos confirmados, mas há expectativa de explosão de casos nos próximos dias. O Ministério da Saúde avisou que se não forem tomadas medidas para restringir o contato social, os casos vão dobrar a cada três dias. O coronavírus já infectou mais de 142,5 mil pessoas e matou 5.393 em todo o mundo.
Não é difícil enquadrar, mais uma vez, a conduta de Bolsonaro como crime de responsabilidade passível de impeachment. Para começar, por ferir a dignidade, a honra e o decoro do cargo, pondo em risco seus governados. Depois, a depender de como evoluir a situação da pandemia no país, ele pode ser acusado de cometer crime contra a segurança interna, estimulando a desobediência a medidas determinadas por órgãos técnicos.
A conduta criminosa de Jair Bolsonaro não acontece só pelo domingo, mas também pela quinta-feira, quando ele, num dos lances mais claramente chavistas deste governo, usou uma cadeia nacional de rádio e TV, ou seja, dinheiro público, para promover e chamar de legítimos os atos que ele participa.
Choca a normalidade com que os demais poderes e a elite do país, inclusive a empresarial e financeira, encara, dia a dia, os ataques à democracia. Parte desses atores é cúmplice confesso desde a campanha. Se há alguma coisa que não existe aqui é surpresa. No máximo, eles reagem com uma declaração de ultraje via Twitter, uma nota de repúdio enviado a uma coluna de jornal, mas sempre reafirmando que as instituições estão funcionando.
O presidente do país não chegou a culpar o dono da Microsoft, Bill Gates, pela chegada do coronavírus no Brasil, como afirmou seu guru, Olavo de Carvalho, mas disse que há histeria e extremismo no combate à doença e que isso seria prejudicial à economia e ao país. Infelizmente, o Brasil tem o primeiro presidente no mundo a chamar uma pandemia mortal de “fantasia”, agora se torna o primeiro ao agir contra o seu combate.
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