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Foto: Alex Pazuello/Semcom-AM

Sem vacina, ‘imunidade de rebanho’ não é melhor estratégia, diz secretário do Ministério da Saúde

Saúde

Discurso de que 70% da população seria infectada e não há como fugir do vírus tem sido repetido pelo presidente Bolsonaro. O diretor da OMS criticou duramente a idéia de imunidade de rebanho afirmando que “deixar o coronavírus se espalhar para supostamente criar imunidade cria risco de vida. Humanos não são gado”.

O secretário substituto de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, disse na terça-feira, 26, que a defesa de que o país deve chegar naturalmente a uma “imunidade de rebanho”, com alto número de pessoas infectadas, como uma forma de frear a Covid-19, “não é a melhor estratégia”.

O termo imunidade de rebanho costuma ser usado para expressar um cenário no qual a porcentagem de pessoas que já foram infectadas e se curaram seria elevada o suficiente para que essas pessoas sirvam de “escudo” das que ainda não tiveram a doença.

Nos últimos meses, o discurso de que 70% dos brasileiros devem pegar a Covid tem sido repetido pelo presidente Jair Bolsonaro como forma de contrapor medidas como o isolamento. Especialistas, porém, apontam que a população está longe de um patamar que seria necessário para essa imunidade – a qual também é alvo de controvérsia.

“Questões que têm sido colocadas, de que é importante que o Brasil adquira imunidade de rebanho de 70% de pessoas infectadas para que a gente tenha diminuição no número de casos, [diminuição] efetiva, considero que essa não é a melhor estratégia se você não tem uma vacina”, afirmou Macário.

“Se você tem uma vacina disponível, isso sim é o ideal, ter 70%, 80%, para que com isso essa população vacinada consiga de fato proteger a população não vacinada”, disse.

Ele ressaltou que, embora ainda não haja uma vacina disponível contra o novo coronavírus, pesquisas atuais apontam que essa possibilidade poderá ocorrer em médio prazo.

Segundo o secretário, o SUS está preparado para organizar uma estratégia quando a vacina estiver disponível. Ele defendeu medidas de prevenção e distanciamento.

Resultado do estudos têm mostrado que o país ainda estaria longe de uma imunidade coletiva. Dados de etapa inicial do estudo Epicovid-19, primeira pesquisa nacional sobre a doença, apontam que o número de infectados pelo novo coronavírus deve ser cerca de sete vezes aquele registrado nas estatísticas oficiais. Por outro lado, o mesmo estudo mostra que a taxa de infecção ainda é baixa.

Em 90 cidades, 760 mil pessoas foram contaminadas, ou seja, têm anticorpos para a doença – número equivalente a cerca de 1,4% da população somada desses municípios. Nessas cidades mora mais de 25% da população brasileira.

Na cidade de São Paulo, aproximadamente 3,1% da população já teria sido infectada e teria anticorpos na data da pesquisa – trata-se de um retrato da quantidade de infecções ocorrido no início do mês, portanto. No Rio de Janeiro, a taxa é de 2,2%.

Questionado sobre a pesquisa, Macário disse que a pasta ainda aguarda para receber os resultados.

“Humanos não são gado” – Um dos principais especialistas da força-tarefa de resposta da Organização Mundial da Saúde –       OMS fez duras críticas à ideia divulgada por grupos contrários às medidas de isolamento social de que a livre circulação do novo coronavírus aumentaria o nível de imunidade da população, a chamada “imunidade de rebanho” ou “de grupo”.

“Humanos não são gado”, disse Mike Ryan, diretor do Programa de Emergências da OMS, durante uma das coletivas de imprensa regulares que a organização realiza a cada dois dias pela internet. “Temos que ser muito cuidadosos com o uso de termos como este, porque se trata de uma aritmética brutal, que coloca as pessoas em risco de vida e causa sofrimento”.

Ryan foi bastante enfático ao rechaçar a ideia de “imunidade de rebanho”, que segundo ele, além de erroneamente comparar humanos e animais, tem sido tratada como algo “mágico”. Para o especialista, segui-la “significa perder pessoas no caminho” de forma deliberada.

A epidemiologista Maria Von Kerkhove, que é a líder técnica da força-tarefa contra Covid-19 da OMS, reforçou que o termo “imunidade de rebanho” é normalmente usado como o resultado de campanhas de vacinação.

A especialista disse ainda que não há evidências de que pessoas que têm contato com o novo coronavírus, independente de desenvolverem sintomas ou não, se tornem imunes a ele.

Von Kerkhove destacou que muitos países estão fazendo pesquisas epidemiológicas usando testes sorológicos em larga escala, o que serviria para saber que porcentagem da população desenvolveu anticorpos contra a covid-19. Segundo ela, os resultados começam a ser compartilhados no meio acadêmico e ainda não podem ser analisados de forma definitiva.

Ainda assim, ela adiantou que os resultados iniciais em países da Europa e da Ásia, além dos EUA, mostram que poucas pessoas têm anticorpos. “Há um indicativo de que poucas pessoas desenvolvem anticorpos, o que indica que as pessoas estarão suscetíveis a serem infectadas novamente no caso de ressurgimento”, disse a epidemiologista.

Fonte: Com Folha de São Paulo e R7
CNTS

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