Ocupa Brasília reúne 200 mil trabalhadores em maior ato contra Temer
Apesar da repressão militar contra os trabalhadores, o movimento “Ocupa Brasília” entra para a história com a grande marcha que reuniu cerca de 200 mil pessoas. Maior manifestação contra o governo Temer, até o momento, encontrou eco dentro do parlamento, quando deputados de oposição impediram o prosseguimento da sessão para dar ouvidos aos anseios da classe trabalhadora, que do lado de fora gritava: “fora Temer”, “nenhum direito a menos” e “diretas já”.
O trecho de cinco quilômetros no eixo monumental, entre o estádio Mané Garrincha, onde houve a concentração das caravanas de todas as categorias que vieram dos estados, e a área em frente ao Congresso Nacional, para realização do ato público, ficou colorido de trabalhadores, com suas faixas e bandeiras. A caminhada preencheu as seis faixas da pista que leva ao Congresso. Os trabalhadores, ao som de batuques, apitos e gritos, reivindicavam a manutenção dos direitos trabalhistas e sociais conquistados, historicamente, com manifestações de igual proporção.
Dirigentes da CNTS, federações e sindicatos da base participaram do ato trazendo às ruas a indignação dos trabalhadores da saúde com a corrupção generalizada envolvendo os setores público e privado e as reformas trabalhista e previdenciária. Segundo o secretário-geral da CNTS, Valdirlei Castagna, a ocupação dos trabalhadores no centro político brasileiro tem o objetivo de se fazer ouvir por aqueles que governam este país. “Durante a proposição das reformas, os trabalhadores, principais afetados com o desdobramento destas propostas, em nenhum momento foram ouvidos. Esta mobilização massiva do movimento sindical está aqui para mostrar a força que temos. Queremos a saída dos corruptos que assaltam a população brasileira, a paralização da tramitação do pacote de maldades do governo e eleições diretas já”.
“Este ato do movimento sindical é um marco da pressão popular que faremos contra o retrocesso. Se o governo achou que aceitaríamos de braços cruzados, se enganou. Milhares de trabalhadores estão aqui, representando outros milhões que não puderam vir, dizendo ‘fora Temer’, ‘não às reformas’ e ‘diretas já’. A CNTS permanece vigilante contra a tentativa de retirar direitos”, disse o tesoureiro da Confederação, Adair Vassoler.
O diretor de Pesquisa, Arquivo e Memória Sindical da CNTS, Osmar Gussi, ressaltou a importância do movimento para mudança da conjuntura política. “Esperamos que esta manifestação surta efeito contra as reformas, que visam exclusivamente a retirada de direitos dos trabalhadores. Não podemos mais esperar. A grave crise política e moral em que o Brasil se encontra afeta, em todos os sentidos, os trabalhadores brasileiros que, com muita coragem, estão reagindo”.
“A manifestação legítima dos trabalhadores deu lugar à barbárie. O espaço público de manifestação dos trabalhadores se transformou em um palco de guerra. Porém, a classe trabalhadora não cessará a luta pelos seus direitos. Não seremos nós os condenados a pagar essa conta resultante das ações imorais desses políticos corruptos e seus aliados. A luta continua. Nenhum direito a menos”, disse a diretora de Assuntos Internacionais da CNTS, Lucimary Santos.
O diretor de Assuntos Legislativos da CNTS, Mario Jorge Santos, destacou a unidade do movimento sindical ante a repressão do governo. “Este momento representou a união da sociedade civil organizada em torno de uma única pauta, a renúncia do presidente Temer e a queda de suas propostas maléficas. Apesar da repressão militar utilizada pelo governo para refrear o movimento, nós trabalhadores não cedemos à pressão e continuamos mobilizados contra o retrocesso”.
As centrais sindicais reafirmaram a disposição de convocar greve geral por tempo indeterminado, independentemente do nome que venha a suceder Temer em caso de queda, caso o novo presidente prossiga cumprindo a agenda de reformas com disposição de aniquilar direitos tão caros à classe trabalhadora.
Conflito – O principal indício de amedrontamento e fragilidade do governo diante da potência das ruas foi a edição do Decreto de 24 de maio, solicitando a presença das Forças Armadas para conter a manifestação. Chamou atenção também o clima de tensão no Palácio do Planalto que chegou a colocar 30 homens do batalhão da guarda presidencial com escudos em cima da rampa, um símbolo da política e arquitetura da cidade. No entanto, toda a Praça dos Três Poderes, onde fica localizado o Planalto, já estava cercada. Não havia manifestantes próximos para justificar a presença até de cachorros na segurança do palácio presidencial.
O protesto dos trabalhadores seguia pacífico, até que um grupo de jovens do movimento black block, que não representava nem 1% do total de trabalhadores presentes, começou a atear fogo em borrachas, plásticos e galhos de árvore. Não demorou muito para que quebrassem vidraças, invadindo alguns ministérios. Para espanto do movimento sindical, a mídia “marrom”, que cobria o ato, deu visibilidade apenas às iniciativas violentas e depredatórias deste grupo, incluindo os demais manifestantes pacíficos no mesmo bojo.