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Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

O Brasil foi entregue à quinta série

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Era para ser uma audiência pública onde o governo explicaria a reforma da Previdência para parlamentares e a população, mas o que se presenciou foi grande papelão tanto por parte do governo, como da oposição. Ontem, 3, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, o deputado petista, Zeca Dirceu, chamou o ministro da Economia, Paulo Guedes, de “tigrão”, e “tchutchuca”. Ofendido, Guedes respondeu na mesma moeda: “Tchutchuca é a mãe, é a avó”. Dias antes, em Israel, o presidente Jair Bolsonaro disse “minha árvore vai crescer mais que a do Lula”. Oficialmente o Brasil foi entregue à quinta série.

Não há como ouvir estes fatos e não se sentir meio ridículo, considerando que a história foi o apogeu de um debate sobre a Reforma da Previdência – que, se aprovada, define um projeto de país para os próximos anos. O problema, contudo, não é a armadilha em forma de letra de funk em que o ministro caiu, mas o debate – que, com louváveis exceções, deixou a desejar, seja pelo despreparo, seja pela omissão ou pela pobreza de conhecimento dos poderosos que regem este país.

Vivemos tempos estranhos desde primeiro de janeiro, em que, para o presidente da República, a culpa pela subida na taxa de desemprego, que alcançou 13,1 milhões de pessoas, é da metodologia do cálculo do índice pelo IBGE. Não admira, portanto, que não tenha apresentado políticas para resolver o problema. Ele prefere torturar os números para que falem a verdade que deseja ouvir.

Em um debate qualificado quem usa esses argumentos nem seria ouvido. Contudo, fazem sucesso na rede e o governo faz das mídias sociais seu palanque. Porém, vale lembrar, quanto mais qualificado o debate, menor a arena para consumi-lo.

Do espetáculo lamentável que presenciamos na oitiva da CCJ, o que pode ser uma luz no final do túnel é que a oposição, mesmo por meios errados, entrou em campo após quase 100 dias de governo. Nesse período, o único que fez oposição ao governo foi o próprio Bolsonaro. Já que a oposição vinha sendo pautada pelos posts e pelas declarações do presidente, pelos seus ministros desastrados, pelos conflitos internos do governo e pelo embate ideológico proposto pelos bolsonaristas. Não que os desatinos de Bolsonaro e dos governistas não devam ser combatidos. Mas como bem lembra o cientista político Aldo Fornazieri, “esta deve ser uma subpauta da oposição. As oposições devem ter a sua própria pauta vinculada aos problemas reais da sociedade. Em política, operar apenas na defensiva resulta em colher derrotas”.

Outra questão positiva que pode ajudar na rejeição da reforma da Previdência é que o governo está abandonado pelos seus aliados. Guedes admitiu em depoimento na Câmara que a reforma da Previdência será desidratada. O ministro disse que já entendeu que o Congresso não aprovará mudanças nas regras para o BPC – Benefício de Prestação Continuada e para as aposentadorias rurais.

Ele foi bombardeado pela oposição, que montou estratégia para questioná-lo duramente. Aliados do governo não serviram de escudo ao ministro, que teve de se defender praticamente sozinho na Câmara. Isso é sinal da desarticulação do governo no Congresso Nacional. No depoimento, também ficaram claras resistências à criação do regime de capitalização e à elevação do tempo mínimo de contribuição de 15 anos para 20 anos.

O mercado financeiro reagiu, com queda da Bolsa e alta do dólar. Caiu a seguinte ficha: o governo Bolsonaro não formou base para aprovar assunto tão polêmico. Já passou da hora de oposição, entidades sociais e sindicais usar este fato ao seu favor.

CNTS

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