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Foto: Sateal

“O assédio moral prejudica toda a sociedade”

Sindicatos de Base

“O assédio não atinge apenas o trabalhador que é a vítima. Ele polui todo o ambiente de trabalho porque as testemunhas do assédio também ficam impactadas”, ressalta o procurador do trabalho em Alagoas, Rodrigo Alencar.

Estando o adoecimento mental no setor saúde entre as doenças que mais têm prejudicado os profissionais auxiliares e técnicos de enfermagem, o procurador do trabalho em Alagoas, Rodrigo Alencar, concedeu entrevista ao Sindicatos dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem do Estado de Alagoas – Sateal, para falar sobre o assunto.

A tônica foi escolhida este ano pelo Programa Trabalho Seguro, iniciativa conduzida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região – TRT/AL, que tem tentado mobilizar as empresas a adotarem uma política de combate a casos dessa natureza, além de incentivar que seja cultivada uma cultura de solidariedade entre empregadores e trabalhadores. A entrevista foi dividida em duas, e neste primeiro momento, o procurador destaca as características e as consequências do assédio e como a vítima pode se prevenir. Veja a entrevista no site do Sindicato no Youtube, clicando aqui.

Quais as características que favorecem o adoecimento mental no setor saúde?

RA – Começam com a matéria prima que o setor fornece. Lidar com a vida, com o adoecimento, com quadros que se agravam e levam à morte. Isso causa impacto a qualquer ser humano, por mais que esteja acostumado a lidar com a situação.  A par disso, os profissionais da saúde lidam com péssimas condições de trabalho. No setor público é ainda pior, faltam equipamentos e condições, há sobrecarga, assédio moral de chefes que, para mostrar que são bons, destratam os trabalhadores publicamente. Há muitos abusos. Todo esse cenário favorece o adoecimento.

Há também os baixos salários, o que torna comum ver um técnico de enfermagem com dois, três empregos. No setor privado a relação de pacientes para os leitos é desproporcional, em desobediência ao que rezam as resoluções que regem os conselhos profissionais. A reforma trabalhista aprovada está facultando a jornada de trabalho de 12×36 horas diurnas, elastecendo o trabalho de modo extremamente danoso. Esse tipo de plantão já existia no horário noturno, mas em regra os pacientes estão dormindo, não há tanta demanda. De dia, essa jornada vai sacrificando a saúde do trabalho física e mentalmente.

Quais são as consequências do assédio para o Estado e sociedade?

RA – O assédio não atinge apenas o trabalhador que é a vítima. Ele polui todo o ambiente de trabalho porque as testemunhas do assédio também ficam impactadas. É como uma bola de neve que começa vitimando o trabalhador, o ambiente, a família, uma vez que esse profissional não consegue esconder o que está passando. Se chegar ao ponto que o profissional precisa ser afastado do local, os prejuízos passam para a empresa, em consequência a esse afastamento, pesando o ambiente e podendo adoecer os demais membros da equipe. Acarreta ainda a perda de produtividade, gerando a necessidade de novas contratações. Se o trabalhador é afastado por auxilio doença, o Estado é quem paga a despesa, bancada por toda a sociedade. Quanto mais os trabalhadores adoecerem vítimas de assédio moral pior para toda a sociedade, que é quem vai pagar a conta.

Que medidas preventivas a vítima pode tomar?

RA – A vítima pode tomar uma série de medidas. Ela (vítima) pode procurar o setor competente da empresa, em regra os recursos humanos e relatar, se sentir segurança, que está sendo vítima de assédio, constrangimento ou humilhação. Não tendo resultados, procure o sindicato da categoria, o Ministério Público, auditores do trabalho, o Centro de Referência do Trabalhador, que tem uma equipe que pode dar encaminhamento.

O trabalhador deve evitar o contato isolado com o agressor, sempre esteja acompanhado de um colega se precise encontrar com o assediante. É importante que esse trabalhador monte um dossiê, um registro completo de todas as situações de humilhação e constrangimento pelas quais passou. A vítima tem que se resguardar porque o assédio moral, quando levado à Justiça, é de difícil prova, por isso é preciso que essa vítima tenha os detalhes do cenário.

Fonte: Sateal
CNTS

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