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Mais contagioso que a Covid-19, sarampo registrou em 2019 o maior número de mortes em 23 anos, aponta OMS

Saúde

Com queda nas taxas de vacinação, especialistas em saúde pública temem que o efeito da pandemia do coronavírus neste ano possa aumentar ainda mais os óbitos decorrentes da doença.

As mortes por sarampo em todo o mundo atingiram, no ano passado, seu nível mais alto em 23 anos. A informação é de um relatório divulgado nesta quinta-feira feito pela Organização Mundial da Saúde – OMS junto com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC dos Estados Unidos. O aumento é impressionante para uma doença evitável por vacina, e os especialistas em saúde pública temem que a doença possa crescer à medida que a pandemia de coronavírus continua interrompendo os esforços de imunização e detecção.

A contagem global em 2019 – de 207.500 mortes – foi 50% maior do que a de três anos antes, de acordo com a análise. No Brasil foram registrados 18.203 casos de sarampo em 2019, quando 15 pessoas morreram em razão da doença. A grande maioria ocorreu em São Paulo, seguidos do Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina, Minas Gerais e Pará. Das 15 mortes em 2019, 14 foram no estado de São Paulo e uma em Pernambuco.

Já os Estados Unidos, apesar de não terem relatado nenhuma morte por sarampo, registraram um recorde anual de 1.282 casos em 31 estados, o maior desde 1992, de acordo com dados atualizados no início deste mês.

Em 2020, casos subestimados – Especialistas em saúde pública disseram que os números crescentes são consequência de anos de cobertura vacinal insuficiente. Eles temem que a pandemia exacerbe a propagação do sarampo, uma doença que é ainda mais contagiosa do que a Covid-19. “Estamos preocupados com a abertura de novas lacunas na imunidade por causa da Covid, além das que já existiam”, disse a médica Natasha Crowcroft, consultora técnica sênior para sarampo e rubéola da OMS. “Não podemos continuar da mesma forma e esperar um resultado diferente”, acrescentou ela, pedindo mais recursos e aplicações criativas deles.

Embora os casos relatados de sarampo até agora tenham sido menores neste ano, especialistas em saúde pública estão mantendo esses números à distância. Eles temem que haja uma subestimação drástica, por causa das interrupções globais da pandemia nos cuidados de saúde, reduzindo assim a detecção e os cuidados médicos para o sarampo – bem como os esforços de prevenção.

Surtos de sarampo já ocorreram este ano em pelo menos metade dos 26 países que tiveram que suspender as campanhas de vacinação por causa da pandemia. A partir deste mês, 94 milhões de pessoas correm o risco de perder vacinas contra o sarampo, de acordo com a OMS. Embora os casos de sarampo possam de fato ser suprimidos como efeito colateral das precauções para prevenir a disseminação do coronavírus, os especialistas dizem que, na melhor das hipóteses, os números baixos atuais representam apenas uma calmaria temporária.

Semelhante a um incêndio florestal – Epidemiologistas internacionais comparam a erupção de sarampo do ano passado a um incêndio florestal de crescimento lento e que finalmente teria explodido. Por uma década, as taxas de vacinação em todo o mundo estagnaram, garantindo uma boa cobertura em muitas regiões, mas ainda não atingindo o alto percentual necessário para conter o contágio. Muitos surtos, incluindo 25 casos nos Estados Unidos no ano passado, tiveram origem em viajantes de outros países.

Dos 184 países que foram analisados no estudo, nove foram responsáveis por 73% dos casos em 2019: República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Geórgia, Cazaquistão, Madagascar, Macedônia do Norte, Samoa, Tonga e Ucrânia.

O crescente ceticismo sobre a segurança das vacinas em todo o mundo tem contribuído para diminuir as taxas de vacinação. “Houve uma crescente displicência e uma desaceleração em alguns países de alta cobertura. Ainda estamos perdendo uma grande proporção de crianças em áreas fora do alcance dos serviços de saúde, áreas rurais ou favelas urbanas, ou onde há conflito armado”, disse o médico Robin Nandy, chefe de imunização do Unicef.

Os esforços para eliminar o sarampo representam, em grande parte, uma história de décadas envolvendo a coordenação de equipes das cidades mais ricas do mundo e seus postos avançados mais pobres. De fato, de 2010 a 2016, os casos e mortes relacionadas ao sarampo diminuíram para 18 casos por milhão de pessoas.

Mas, ao mesmo tempo, a cobertura vacinal começou a estagnar. Para prevenir um surto de sarampo, 95% da população deve receber duas vacinas contra o sarampo – a tríplice viral. Mas, desde 2010, as taxas para a primeira vacina, idealmente administrada quando uma criança tem cerca de um ano de idade, estão estagnadas em uma média mundial de cerca de 85%; embora a cobertura abrangente para a segunda injeção, normalmente aplicada entre as idades de 4 e 6 anos, tenha aumentado, agora é de apenas 71%. No Brasil, a segunda dose é dada aos 15 meses.

Todos os dias nascem bebês, e o número de não vacinados ou de subvacinados cresce. Em 2019, os casos relatados em todo o mundo totalizavam 120 por 1 milhão.

Fonte: O Globo
CNTS

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