Governo libera vacinação infantil sem necessidade de receita
Vacina Contra a Covid
20 dias após aval da Anvisa, o governo federal anuncia vacinação de crianças entre 5 e 11 anos, ainda neste mês. O presidente Bolsonaro e ministro Queiroga queriam exigir receita médica para grupo, mas iniciativa foi alvo de críticas de especialistas, pais e estados.
O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira, 5, a inclusão de crianças de 5 a 11 anos no plano de vacinação contra a Covid-19 sem que seja exigida prescrição médica. O esquema vacinal será com duas doses, com intervalo de oito semanas entre as aplicações. O tempo é superior ao previsto na bula da vacina da Pfizer. Na indicação da marca, as duas doses do imunizante poderiam ser aplicadas com três semanas de diferença.
O Ministério também recomendará uma ordem de prioridade, das crianças mais velhas para as mais novas, com prioridade para quem tem comorbidade ou deficiência permanente; indígenas e quilombolas; crianças que vivem com pessoas com riscos de evoluir para quadros graves da Covid-19; e em seguida crianças sem comorbidades. Para receber a dose, basta a criança estar acompanhada da mãe, pai ou de um responsável legal.
A expectativa é que o primeiro lote de doses chegue ao país em 13 de janeiro e que sejam enviadas para a aplicação nos municípios a partir do dia seguinte. Foram compradas 20 milhões de doses da farmacêutica Pfizer, única aprovada até o momento para essa faixa etária no país. Elas serão entregues ao longo do primeiro trimestre, sendo que 3,74 milhões chegarão ao Brasil ainda em janeiro, segundo o Ministério.
Governo tentou dificultar processo – A vacinação infantil já havia recebido autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa há 20 dias, mas nas últimas semanas o tema foi alvo de conflitos por causa da postura do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Contrariado com a postura da Anvisa, Bolsonaro criticou publicamente os técnicos da Agência e chegou a ameaçar a divulgação dos seus nomes. Posteriormente, vários funcionários da Anvisa passaram a receber ameaças. Já o ministro Queiroga, atendendo a pressão negacionista de Bolsonaro, estabeleceu que as crianças só receberiam a vacina com prescrição médica, o que provocou críticas de pais e entidades científicas, que apontaram que a medida era uma forma de dificultar o processo.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde – Conass também se opôs à exigência, e chegou a afirmar que nenhum estado pediria prescrição médica para a vacinação. Até a última terça-feira, 4, cerca de 20 estados já haviam publicado regras para evitar a exigência.
O governo ainda tentou protelar a questão, abrindo uma inédita consulta pública sobre o tema, no que foi encarado também como tentativa de dar palco para grupos negacionistas. Mas a tática do governo Bolsonaro não funcionou e maioria das 100 mil pessoas que responderam à consulta pública se opuseram à necessidade de receita médica.
Covid matou uma criança de 5 a 11 anos a cada dois dias no Brasil – Enquanto o governo federal conseguiu retardar o processo de vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos contra a Covid-19, essa faixa etária segue em risco. O Brasil soma 2.625 mortes de pessoas entre zero e 19 anos desde a confirmação do primeiro caso da doença no país até o dia 6 de dezembro deste ano. Uma média de quatro óbitos por dia, segundo dados do Ministério da Saúde.
Dados da pasta mostram que, em 2020, o país teve 373 óbitos de pessoas com menos de um ano por Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pela Covid-19; 189 na faixa entre 1 e 5 anos e 641 pessoas de 6 a 19 anos, somando 1.203.
Em 2021 os números foram ainda maiores: 418 bebês menores de um ano morreram, 208 crianças entre 1 e 5 anos, além de 796 pessoas entre 6 e 19 anos, um total de 1.422.
Diante deste cenário, a vacina contra a Covid-19 se apresenta como uma alternativa real de controle e prevenção destes desfechos da doença e que está ao alcance dos responsáveis pelas políticas públicas de saúde do país.
Entre os argumentos apresentados a favor da vacinação infantil, está o fato de que testes mostraram que o imunizante é eficaz e seguro. Os especialistas também argumentam que, além de proteger as crianças, isso contribui para o combate à pandemia ao dificultar a circulação do vírus – algo especialmente valioso diante do aumento de casos recente causado pela variante ômicron.