FEESSERS realiza XV Congresso Estadual com foco na saúde dos trabalhadores e nos desafios sindicais
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A Federação dos Trabalhadores em Saúde do Rio Grande do Sul – FEESSERS realizou na última quinta-feira, 07 de novembro, o XV Congresso Estadual. O evento reuniu mais de 90 delegados, tanto de forma presencial quanto virtual, além de palestrantes e convidados especiais. Com o tema “Garantir Saúde Mental e Física para quem protege vidas”, o Congresso, promovido pela Federação filiada à CNTS, abordou temas fundamentais para os direitos dos trabalhadores da saúde, como a conjuntura atual, o financiamento sindical e a saúde da mulher.
O presidente da FEESSERS, Milton Francisco Kempfer, destacou a relevância do evento frente ao cenário atual, que ele descreveu como desafiador para os sindicalistas em todos os níveis, especialmente após a reforma trabalhista de 2017. “Cada direito que conquistamos é fruto de intensas negociações sindicais com a patronal, seja em questões de reajuste salarial ou cláusulas sociais, como FGTS, férias, folgas, jornada de trabalho, auxílios e muito mais. É urgente discutir o custeio das entidades e definir novos caminhos para proteger os trabalhadores”, afirmou Kempfer.
Valdirlei Castagna, presidente da CNTS, também abordou as dificuldades conjunturais, enfatizando os desafios enfrentados com um Congresso e um Senado que ele acredita estarem mais voltados aos interesses empresariais, com pouca atenção às necessidades dos trabalhadores. “Lutamos por anos pelo piso nacional da Enfermagem, uma luta que se intensificou durante e após a pandemia. Conseguimos sua aprovação, mas ainda enfrentamos dificuldades para garantir sua execução plena. Recebemos aplausos, mas a exploração continua. Ainda assim, graças à persistência das entidades sindicais, o piso permanece”, declarou Castagna.
No tocante à saúde dos trabalhadores, as palestras foram ministradas pela Dra. Cristina Benedetti, Procuradora do MPT do Rio Grande do Sul, e pela Dra. Maria Helena Machado, pesquisadora da Fiocruz. Ambas apresentaram dados preocupantes sobre o desgaste dos profissionais da saúde no ambiente de trabalho, agravado por desigualdades, exploração e preconceito que afetam um contingente de mais de 2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras.
As palestrantes concordaram sobre as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, como a barreira para denunciar assédios – seja moral ou sexual – e as dificuldades de encorajar as vítimas a registrarem denúncias. Elas também destacaram o impacto do adoecimento dos próprios dirigentes sindicais, que, além de lidarem com a oposição patronal, muitas vezes enfrentam incompreensão por parte dos próprios representados quanto ao papel essencial do sindicato.
Para Benedetti e Machado, são necessárias mudanças na legislação que facilitem as denúncias e protejam esses profissionais. A procuradora Benedetti destacou que tem trabalhado para a aceitação de provas circunstanciais, como elementos documentados via CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), para fundamentar casos de assédio. “O assédio sexual, por exemplo, é especialmente difícil de comprovar, pois ocorre de maneira cada vez mais sofisticada e, geralmente, em momentos sem testemunhas”, explicou Benedetti.
A pesquisadora Maria Helena Machado chamou a atenção para a precarização crescente do trabalho no Brasil, que desestimula as denúncias. “Sem contratos fixos que ofereçam uma mínima estabilidade, os trabalhadores vivem sob constante estresse e medo de perderem o emprego, o que os leva a silenciarem sobre abusos para manter sua renda”, afirmou Machado. Ela sugeriu que a criação de mesas de negociação nacionais, estaduais e municipais poderia fortalecer os sindicatos, permitindo uma atuação conjunta com o Ministério Público do Trabalho para proteger melhor os trabalhadores.
O Congresso da Federação pode ser assistido através do link, clicando aqui.