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Estudo aponta desgaste e baixos salários na área da enfermagem

De maioria feminina; jovem; com predomínio de pardos e pretos; inseridos majoritariamente no sistema público de saúde; e aglomerados, em sua maioria, na região sudeste. 10% dos trabalhadores da enfermagem afirmam ter sofrido acidentes de trabalho nos últimos 12 meses e apenas 30% afirmam se sentir seguros no local de trabalho. Este é o perfil da enfermagem brasileira segundo pesquisa divulgada nesta quarta (6) pelo Cofen em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz – FioCruz.

Ainda de acordo com a pesquisa, divulgada às vésperas das comemorações da Semana da Enfermagem, a categoria comporta ao todo cerca de 1,7 milhão de trabalhadores. Destes, 20% são enfermeiros. Os outros 80% são técnicos e auxiliares de enfermagem. Quanto à formação, a pesquisa aponta que 30% [mais de 1,3 milhão] de técnicos e auxiliares de enfermagem estão fazendo algum curso superior, os outros 70% revelam que no futuro desejam fazer um curso de graduação na área.  

Para a coordenadora, Maria Helena Machado, a pesquisa realizada é a mais completa que existe acerca da categoria. “Traçamos o perfil da grande maioria dos trabalhadores que atuam do campo da saúde. Trata-se de uma categoria presente em todos os municípios, fortemente inserida no SUS e com atuação nos setores público, privado, filantrópico e de ensino. Isso demonstra a dimensão da pesquisa, que não contempla apenas os que estão na ativa, mas a corporação como um todo”, disse.

A pesquisa aponta ainda que a categoria encontra dificuldades na hora de se inserir no mercado de trabalho. “60% dos profissionais entrevistados afirmam ter dificuldade na hora de se efetivar em um emprego. Entre as principais dificuldades listadas estão a falta de concursos públicos na área, a formação deficitária e a falta de oportunidades”, destacou Machado.

Outro dado preocupante é o número de trabalhadores que atuam em subjornadas e recebem subsalários. De acordo com Maria Helena, são consideradas subjornadas aquelas que têm duração inferior a 20 horas. “Há um volume considerável de trabalhadores nesta situação. Ela geralmente ocorre quando um colega substitui o outro no horário de trabalho”. Quanto aos subsalários, são considerados valores iguais ou inferiores a R$ 1.000. “Há um desnível no salário pago aos trabalhadores da enfermagem. 14% dos que estão no setor público recebem subsalários; no setor privado este número sobe para 21%; no setor filantrópico também são 21%; e no ensino são apenas 12%”.

Subjornadas e subsalários – Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde – CNTS, José Lião de Almeida, será necessário empenho do Legislativo para que os trabalhadores da enfermagem não sofram com subjornadas e subsalários. “Atualmente, existem dois principais projetos na Câmara que são de interesse da enfermagem. Um está pronto para ser votado e o outro precisa ser reapreciado. Com a nossa jornada de trabalho regulamentada pelo PL 2.295/00, os profissionais terão a oportunidade de descansar e se qualificar; e, com o nosso piso salarial regulamentado pelo PL 4.924/09, poderemos dar ao trabalhador e trabalhadora da enfermagem um pagamento digno pelo trabalho realizado”, disse.

O presidente do Conselho Federal de Enfermagem, Manoel Carlos Nery, acredita que a categoria representa, atualmente, a maior força de trabalho na saúde, mas precisa de cuidados e de merecida importância. “Os dados mostram que os profissionais trabalham em jornadas muito altas, recebem salários, em sua maioria, muito baixos e que obrigam o profissional a ter mais de um vínculo de trabalho e em condições muito ruins”.

De acordo com o tesoureiro da CNTS, Adair Vassoler, “é preciso investir muito em saúde para termos a qualidade que precisamos. Em 2013, o movimento Saúde +10, que a CNTS faz parte, levou mais de 2 milhões de assinaturas para a Câmara, pedindo o investimento de 10% das receitas brutas da União no SUS. Atualmente, o projeto está pronto para votação em plenário”, lembrou.

Acidentes de Trabalho – 10% dos trabalhadores da enfermagem afirmam ter sofrido acidentes de trabalho nos últimos 12 meses. Quanto ao adoecimento, 56% revelaram ter precisado de atendimento médico nos últimos meses. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Maria Helena, “as instituições de saúde que empregam estes trabalhadores da enfermagem não os acolhem quando estão adoecidos”. Segundo a pesquisa, 59% afirmam não ter tido assistência hospitalar quando precisaram.

A pesquisa avaliou também se a enfermagem tem a oportunidade de descanso entre as atividades exercidas no ambiente de trabalho. No setor público, 48% afirmam ter, no local de trabalho, um setor para descanso. Já no setor privado 50% revelam ter um local para desfadigar do trabalho. No filantrópico este número cai para 38%.

Presente e futuro da enfermagem – A pesquisa abordou ainda o sentimento que os trabalhadores têm da profissão e as expectativas para o futuro. Ao todo, 67% se sentem desgastados no ambiente de trabalho. Segundo Maria Helena, “muitos trabalhadores descreveram seus postos de trabalho como hostis e pouco amigáveis. Há ainda registros de desrespeito e maus tratos por parte dos usuários da saúde”. Quanto à segurança o dado é mais alarmante. Apenas 30% afirmam se sentir seguros no local de trabalho.

A pesquisa sinaliza que a enfermagem é uma categoria com atos sedentários. De acordo com os dados, apenas 33% praticam alguma atividade física. Em relação ao lazer, o levantamento mostra que a enfermagem tira férias, porém, pouco viaja.

Quanto ao futuro, dois terços dos entrevistados apresentam uma visão pessimista do futuro. Para Maria Helena, esta visão pessimista se deve às atuais condições que causam no trabalhador desesperança. “Com tantas barreiras, dificuldades e problemas, é natural perceber que a enfermagem não tem uma visão positiva do futuro. Esperamos que a categoria seja vista pelos governantes para que haja uma injeção de ânimo”, disse. 

CNTS

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