
Descaso de governos leva a recorde de mortes de profissionais de saúde
Coronavírus
Falta de equipamentos e treinamento permite que trabalhadores sejam infectados pela Covid-19. Mais de 17 mil enfermeiros, técnicos e auxiliares se infectaram, e 161 morreram, segundo dados do Cofen.
O Brasil bateu recorde mundial de mortes e infecções de Covid-19 entre profissionais de saúde. Segundo especialistas, o país chegou a essa situação por descaso dos governos federal e estaduais, falta de equipamentos de proteção contra o coronavírus e desqualificação profissional de médicos e enfermeiros convocados para combater a doença.
O Brasil é o triste recordista mundial de profissionais de saúde e enfermagem mortos pelo novo coronavírus: 52% dos casos ocorreram aqui. De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem – Cofen quase 17.500 enfermeiros, técnicos e auxiliares se infectaram, e 161 morreram. O Conselho Internacional de Enfermeiros informa que o país tem número de mortes entre enfermeiros maiores que o dos Estados Unidos, com 146 óbitos, e que o do Reino Unido, com 77.
O coordenador do Cofen, Eduardo Fernando de Souza, afirma que um dos fatores é a má qualidade dos EPIs e outro muito preocupante é que os profissionais acima de 60 anos que tem comorbidades continuam na linha de frente dos atendimentos.
Falta de treinamento – A grande quantidade de contaminados acontece também por falta de treinamento que não foi dado pelas empresas privadas e pelo poder público. É o que denuncia Solange Caetano, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo – Seesp. “Muitas instituições colocaram os trabalhadores na linha de frente, mas não treinaram eles nem para colocar e tirar a roupa, ou seja, fazer a paramentação e a desparamentação, e também não treinaram esses profissionais quanto aos cuidados em relação à covid-19 especificamente”, afirma.
Entre os médicos, a quantidade de mortes também é preocupante. São mais de 110 casos e os problemas apontados são iguais aos dos enfermeiros. Falta de equipamentos de proteção e instalações inadequadas. Juliana Salles, do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo, ainda aponta que empresas e governo não dão capacitação, principalmente aos recém-formados.
“Os hospitais de campanha geridos pelas organizações sociais muitas vezes contratam mão de obra desqualificada, mão de obra recém-formada e também que não tem o preparo adequado e eles não fazem esse preparo”, afirma Juliana. “Os médicos que são contratados nesses hospitais de campanha geridos por organizações sociais são recém-formados que não têm treinamento em atendimento de porta e não têm expertise no atendimento de emergência e urgência”, diz.
O governo do estado de São Paulo permitiu a flexibilização da quarentena no município de São Paulo a partir de junho. A prefeitura da capital, no entanto, afirmou que não haverá flexibilização no dia 1° e nem deu datas. Os profissionais de saúde acham que esse realmente não é o momento adequado, porque os índices não mostraram queda nas contaminações e mortes. “Agora o que a gente necessitaria é ter incentivo para as pessoas fazerem isolamento”, defende Juliana.