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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Com muita luta, negros avançam no Brasil

Dia da Consciência Negra

Há boas notícias para serem lembradas neste Dia da Consciência Negra. Sem esquecer o imenso, e inaceitável, espaço das distâncias sociais brasileiras, é possível ver o avanço que houve nas duas décadas deste século. Parte da mudança aconteceu na educação. Mais da metade dos jovens pretos e pardos, de 18 a 24 anos, está na universidade. É uma esperança no futuro. Esperança de que entrem no mercado de trabalho, abram portas que seus pais nunca conseguiram atravessar, cheguem aos postos de comando nos quais outras gerações nunca estiveram, realizem seu talento, mudem o país.

Foi por conta da resistência, que a população negra conseguiu maior acesso à universidade. O percentual de alunos quase dobrou em 10 anos: em 2005, um ano após a implementação de ações afirmativas, 25,4% dos jovens pretos ou pardos de 18 a 24 anos frequentavam uma faculdade. Em 2015, 40% dos negros na mesma faixa etária estavam matriculados no ensino superior.

As cotas vieram, as universidades públicas estão em crise, por outros motivos, mas são ainda o caminho no qual se constrói o começo do desmonte das barreiras artificiais que separam os grupos sociais brasileiros. Muita coisa aconteceu nestas duas décadas, muita ainda falta acontecer nas próximas. O racismo permanece visível nos indicadores sociais e na cena pública brasileira. O desemprego é maior entre negros, são eles que recebem salários menores e são a maioria dos informais. Há dado que mostra o inegável da discriminação: brancos com curso superior têm salários 45% mais elevados do que os negros que também concluíram o curso superior. Eles são iguais na escolaridade, mas a renda é desigual dependendo da cor da pele.

Nada é mais aterrador, no entanto, que os números de morte violenta de jovens negros. A taxa de homicídio de brancos de 15 a 29 anos é 34 por cem mil habitantes, dos pretos e pardos é 98,5. E, se forem apenas os homens negros, é 185. A morte violenta de jovens no Brasil é calamidade pública.

O IBGE fez o saudável esforço que sempre faz em informar o debate brasileiro sobre esse tema. Vários recortes, vários dados e comparações foram divulgados nos últimos dias. E lá estão as feridas. A taxa de analfabetismo dos brancos com mais de 15 anos é 3,9%, dos negros, é 9,1%. O único número aceitável seria zero. Para todos. Ontem, 19, saiu a desagregação do desemprego do terceiro trimestre. É de 9,2% entre brancos, 13,6% entre pardos e 14,9% entre pretos. Na Câmara dos Deputados, 75,6% são brancos. Quase 70% dos cargos gerenciais são ocupados por brancos.

Muita gente se pergunta: por que falar disso numa data comemorativa? Por que em novembro, no exato dia 20, em que, há 324 anos, morria Zumbi dos Palmares, algumas cidades do país têm o feriado da consciência negra? O problema das desigualdades raciais pode e deve ser falado todos os outros dias, mas é bom que haja um momento como o de hoje, dedicado ao tema.

Há coisas que insistem em permanecer, como a negação de que o racismo exista no país, mas há evidentes sinais de que muita coisa está mudando. Nas ruas, nas artes, nas propagandas, na literatura, nas empresas, os negros estão cada vez mais visíveis. Eles e elas estão mais orgulhosos do que nunca da sua beleza, dispostos a deixar os cabelos soltos, acentuando as diferenças dos tipos físicos que dão ao Brasil o belo colorido da nossa diversidade.

Ainda há muito caminho a andar. E agora há de novo uma onda contrária que tenta apagar a agenda do debate racial no país. Não vão conseguir. Negar a existência da ferida não vai curá-la. É preciso persistir no caminho de enfrentar o problema para superá-lo. Como afirma a ativista Angela Davis, “quando o negro se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ele”.

CNTS

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