Com base menor que 2010, Dilma precisará dialogar mais com Congresso

Com vitória apertada nesse último domingo (26), a presidente Dilma Rousseff se reelegeu para mais quatro anos de governo com mais de 54,5 milhões de votos (51,6%) ante os 51 milhões de votos (48,4%) de Aécio Neves. Segundo analistas, esta foi a disputa presidencial mais acirrada desde 1985. Isto significa que a presidente eleita precisará dialogar com diversos setores da sociedade que não manifestaram apoio ao seu projeto de governo nestas eleições.

Para o novo mandato que vai até 2018, Dilma enfrentará, desta vez, um Congresso Nacional mais heterogêneo e dividido. Após as eleições de 2010, 22 partidos políticos tinham representação na Câmara, agora são 28. Para a próxima legislatura, a base aliada do governo contará com 304 deputados eleitos ante os 209 que não fazem parte da coligação com o governo.

Na avaliação do analista político do Diap, Antônio Augusto de Queiroz, este será “o Congresso mais conservador desde a redemocratização”.

O Diap mostra crescimento do número de parlamentares policiais ou próximos desse segmento. Ao todo, esse setor contará com 55 deputados. A bancada evangélica também cresceu e contará, agora, com 52 parlamentares. Embora nem todos os evangélicos devam ser considerados conservadores, em geral, eles têm tido postura contrária à ampliação do direito ao aborto, à união homoafetiva e à legalização de drogas como a maconha.

Para o próximo ano a bancada empresarial estará mais que quatro vezes maior que a sindical com 217 e 51 representantes respectivamente. Entre os temas priorizados da bancada empresarial estão a reforma dos direitos trabalhistas, a terceirização e a redução de encargos para o setor. Já a bancada sindical tem como pautas principais a defesa dos direitos trabalhistas, sindical e previdenciário e a redução da jornada de trabalho. Outra bancada que terá pouca representação é a feminista, com 50 representantes. Entre as pautas principais deste conjunto estão a igualdade de gênero, ampliação da licença-maternidade e o combate a violência contra a mulher.

Segundo o Diap, nenhum dos candidatos que se autodeclarou indígena foi eleito para a Câmara dos Deputados. Além disso, dois dos que integram a Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas não voltarão à Câmara: Padre Ton (PT-RO), que perdeu a eleição para o governo de Rondônia; e Domingos Dutra (SD-MA), que não conseguiu ser reeleito.

No senado, houve também uma redução, ainda que mínima, dos partidos que compõe a base do governo, que atualmente conta com 53 senadores. Este número cairá para 51 em 2015, pouco mais dos 3/5 exigidos para aprovar emendas constitucionais.

Oposição

O número de opositores deve ficar maior com a volta do senador Aécio Neves, e seu vice, também senador, Aloysio Nunes. Outros nomes conhecidos do eleitorado também compõem a oposição no Senado, como José Serra, Antônio Anastasia e Tasso Jereissati, todos do PSDB.

Algumas pautas devem dividir opiniões nas duas casas. Entre elas estão a proposta de reajustes de produtos do dia a dia dos brasileiros, como energia e gasolina; reforma tributária e fiscal; e a reforma política.

Dilma terá que negociar com vários partidos no varejo (caso a caso) para formar maioria pontual e, acima de tudo, ficará na mão dos partidos médios. De acordo com o Diap, num cenário desses, as chances de reformas estruturais são praticamente nulas. Ou haverá pressão popular ou o “toma-lá-dá-cá” tende a aumentar.

Mas, em seu primeiro discurso pós-eleita, Dilma Rousseff disse estar disposta ao diálogo. “Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e brasileiros para nos unirmos em favor do futuro de nossa pátria. Não acredito que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Creio que elas mobilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas movidas por um sentimento comum: a busca por um futuro melhor”, afirmou.

Nos estados

Nesse último domingo (26) também foi dia de decisão para governador em 13 estados e Distrito Federal. O PMDB em 2010 elegeu sete governadores e permaneceu com o comando de sete estados. O PSDB que em 2010 elegeu oito governadores desta vez perdeu o comando de três estados e só possui governadores eleitos em cinco estados. O PT, que estava com o comando de cinco unidades da federação permaneceu com os mesmos cinco. O PSB elegeu em 2010 seis governadores, agora em 2014 somente três estados serão governados pelo partido. PDT, PSD, PCdoB, PP e Pros, que em 2010 não elegeram nenhum governador, este ano ganharam as eleições em dois estados PDT e PSD, um estado PCdoB, PP e Pros respectivamente. DEM e PMN, que governavam dois e um estado respectivamente, perderam nestas eleições e não irão governar nenhum estado em 2015.

A tendência é que, com maior representação da base aliada nos governos estaduais, Dilma consiga mais facilmente dialogar e implantar os programas do governo federal nos estados e municípios. 

CNTS

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