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Com 7.921 mortes por coronavírus, Brasil se projeta como próximo epicentro global da pandemia

Coronavírus

Dois estudos fazem projeções de casos no país enquanto dados oficiais seguem defasados pela falta de testes e de resultados dos exames feitos na rede particular. Ceará, Maranhão e Pará declaram ‘lockdown’ em algumas cidades.

O Ministério da Saúde registrou, ontem, 5, mais 600 mortes por Covid-19 no Brasil, um recorde de notificação em apenas 24 horas, somando 7.921 vítimas fatais da pandemia no país. Já são 114.715 as infecções por coronavírus notificadas, e 48.221 – 42% do total – pessoas são consideradas recuperadas. Apesar do número mais elevado registrado até hoje num único dia, ainda é impossível determinar qual foi a data que registrou o pico de mortes no país, uma vez que ao menos 1.579 óbitos ainda estão sob análise.

O secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson de Oliveira, fez questão de frisar que entre as 600 novas vítimas notificadas, 25 faleceram nesta terça-feira, 51 faleceram na segunda-feira e 48 morreram no último domingo. Wanderson também reconheceu que o Brasil segue com problemas crônicos desde o começo da crise sanitária: ainda não testa de forma suficiente a população, tem um gargalo para processar os exames que faz e tampouco consegue centralizar os resultados de testes rápidos feitos por Estados e pela rede privada.

“Ainda não dá pra dizer quando chegaria o pico da crise. O isolamento social reduz a curva de casos. Ainda não sabemos em que data exata isso ocorrerá. O que posso dizer é que será entre maio, junho e julho, não tenho dúvida”, disse o secretário, que frisou a diferença de comportamento de contágio entre os Estados.

Também na terça-feira foram publicados dois estudos – de um conjunto de pesquisadores brasileiros e da universidade Johns Hopkins e outro de pesquisadores da Universidade do Estado de São Paulo e da Universidade de Oxford – que apontam que o Brasil será o novo epicentro global da pandemia. Em estudo que ainda não foi revisado por outros cientistas, pesquisadores brasileiros e britânicos compararam as curvas epidêmicas do Brasil e dos Estados Unidos – considerado o atual epicentro da pandemia – e observaram que as taxas de mortalidade daqui seguem um aumento exponencial semelhante ao dos EUA. Os cientistas estimam até 64.310 mortes no Brasil até o dia 9 de junho, considerando cenário mais pessimista, e 31.384 mortes num cenário considerado mais otimista – os óbitos foram estimados até o 31º dia após a quinta morte registrada os dois países.

Já a projeções dos pesquisadores em parceria com a Johns Hopkins, que contaram com dados publicados até o dia 3 de maio, indicam que o número de infecções no Brasil pode chegar a 1,6 milhão, mais do que os 1,1 milhão de casos estado-unidenses. O estudo destaca a demora na notificação de casos no país como a razão pela qual os números oficiais ainda não são tão altos: o Brasil realizou cerca de 1.600 testes por milhão de pessoas, enquanto os EUA administram 20.200 testes por milhão de pessoas, e alguns países europeus realizam 30.000 testes por milhão.

O secretário em vigilância em saúde, Wanderson de Oliveira afirmou que a análise do Ministério da Saúde considera “todos os vírus respiratórios”, cujo contágio se acentua nos meses de inverno. “Naturalmente, teremos aumento de circulação desses vírus, no entanto, as medidas não farmacológicas que estão sendo adotadas, como o distanciamento social, lavar as mãos e o uso de máscaras, com certeza terão impacto positivo”, disse.

Oliveira acrescentou que única informação que pode garantir hoje é que o período mais crítico da doença será conhecido entre maio, junho e julho. O secretário também admitiu que mais de 90 mil testes para Covid-19 estão em fila de espera aguardando processamento. Além disso, os resultados de cerca de 100 mil feitos em laboratórios privados não estão sendo compartilhados com o governo e tampouco dados de testes rápidos estaduais.

Lockdown – Ante o avanço da epidemia, o Governo do Ceará e a Prefeitura de Fortaleza decretaram, nesta terça-feira, medidas mais rígidas de isolamento social, que começarão a valer na sexta-feira, 8. Foi o segundo Estado anunciar as medidas depois do Maranhão, onde em cidades na região metropolitana da capital, São Luís, só estão autorizados a funcionar serviços essenciais desde a esta terça-feira. Especificamente na capital cearense, haverá maior restrição para a circulação de pessoas e veículos nas vias públicas, uso obrigatório de máscaras para todas as pessoas que precisarem sair de casa e novas regras para o funcionamento de atividades essenciais, como farmácias e supermercados. As mudanças foram anunciadas em um pronunciamento conjunto do governador Camilo Santana e do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio.

“O momento que vivemos é grave”, alertou o prefeito Roberto Cláudio. Fortaleza concentra 8.342 dos 11.256 casos confirmados da Covid-19 no Ceará. “A despeito do grande esforço de abrir leitos todos os dias, a velocidade da disseminação da doença é muito maior do que a capacidade dos poderes públicos neste momento”, acrescentou o prefeito.

Na capital, serão proibidas atividades que agreguem pessoas e haverá maior restrição à circulação de pessoas e veículos em via pública. As autoridades controlarão o fluxo de saída e entrada no trânsito da cidade, e o uso de máscaras será obrigatório fora de casa, inclusive dentro de veículos particulares e coletivos.

A circulação de pessoas e veículos em espaços públicos – como praias, praças, calçadões e parques – será “permitida somente com devida justificativa, como busca aos serviços essenciais. Também haverá controle nas entradas e saídas da cidade”, explicou Camilo Santana, que anunciou a renovação imediata do decreto estadual de isolamento social por mais 15 dias em todo o Ceará, inclusive com o uso obrigatório de máscaras nos espaços públicos.

Segundo ele, o Estado vinha apresentando menores índices de isolamento e agravamento no número de casos confirmados e mortes por coronavírus. O governador disse que foram criados 1.500 novos leitos no Ceará – aumento de 63% na rede hospitalar. “Mesmo com todo o esforço, o nosso sistema de saúde tem chegado ao limite. Por isso, teremos medidas mais rígidas. Quero fazer um apelo para que a população cumpra o isolamento social. Esta é a principal medida para diminuir os efeitos dessa pandemia, que mata as pessoas”, afirmou.

No Pará, o governador Helder Barbalho também anunciou medidas de bloqueio total em dez municípios do estado, que devem funcionar de forma “educativa” a partir de quinta-feira, 7, até domingo, 9. Depois disso, punições poderão ser aplicadas em caso de descumprimento até o dia 17 de maio. A circulação de pessoas será limitada e somente serviços essenciais funcionarão nos sete municípios da região metropolitana e outros três no interior: Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Castanhal, Santa Bárbara do Pará, Santa Izabel do Pará, Vigia, Santo Antônio do Tauá e Breves (Marajó).

Resultado das medidas de isolamento – Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro e setores ligados a ele seguem fazendo campanha contra o isolamento, afirmando, sem qualquer evidência, de que não funcionam para desacelerar os contágios. Uma análise feita pelo engenheiro e cientista de dados Maurício Féo mostra que, de fato, o país poderia estar perto de um milhão de casos de covid-19 se alguns Estados e cidades não tivessem adotado medidas de isolamento social. O cientista explica que a epidemia crescia exponencialmente no país até somar os 1.500 casos. Quando o estado de São Paulo, que concentra o maior número de infecções, decretou a quarentena, em 23 de março, a curva começa a tornar-se menos íngreme. Féo faz doutorado em física de partículas no Cern, a organização europeia de pesquisa nuclear que opera o maior acelerador de partículas do mundo, em Genebra, Suíça.

Ao comparar a curva epidêmica brasileira com a dos Estados Unidos, onde o distanciamento social foi adotado mais tarde, Féo destaca como a curva no Brasil cresceu mais vagarosamente. “Você não ficou preso em casa, ficou a salvo em casa”, diz o cientista.

Fonte: El País
CNTS

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