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Foto: Marcos Corrêa/PR

Com 20 militares, Ministério da Saúde pode mudar narrativa da pandemia

Política

A queda do secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, e a entrada de militares e do Centrão deixa a pasta menos técnica e liga o alerta para possíveis maquiagens nos dados.

O governo federal exonerou na noite de ontem, 25, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o epidemiologista Wanderson Oliveira. Dessa forma, a pasta perde sua principal referência técnica e o profissional que desenvolveu o planejamento do governo brasileiro para o enfrentamento à pandemia. Em contrapartida, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo, o ministério deve receber mais 20 militares em cargos estratégicos, que farão companhia a outros 20 já nomeados.

O Centrão também deve receber uma fatia do Ministério. Líderes do Progressistas e do PL chegaram a um acordo para indicar o médico Marcelo Campos Oliveira como secretário de Atenção Especializada à Saúde – Saes. O nome ainda não foi publicado no Diário Oficial da União, mas foi negociado pelos partidos diretamente com o Palácio do Planalto. A secretaria é cobiçada por liberar recursos para custeio de leitos em hospitais de todo o país. Durante a pandemia, já autorizou bancar R$ 911,4 milhões para o funcionamento, por 90 dias, de 6.344 quartos de UTI específicos para a Covid-19.

Nenhum dos militares que trabalham no Ministério possui formação técnica para atuar na área da saúde, nem mesmo o general Eduardo Pazuello, chefe temporário da pasta, que substituiu dois médicos no cargo, Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta. Quem atua no setor alerta para os perigos das mudanças.

“A subnotificação já afeta os dados hoje, minha preocupação é que passe a haver ação deliberada para produzir subnotificação e atraso na divulgação do avanço da epidemia”, explica Leandro Gonçalves, professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense – UFF.

“Se eles quiserem, eles vão conseguir manejar a narrativa da extensão da pandemia no Brasil. Hoje, caiu o Wanderson da Silva, que é o cara que planejou o enfrentamento à pandemia no Brasil, cai com ele também o planejamento. Virá alguém que irá conduzir de outra maneira. Teremos os balanços diários e a mesma postura de alerta com relação ao vírus? Ou será que vai começar a mudar a narrativa?”, pergunta Gonçalves.

Além de Wanderson Oliveira, o Ministério da Saúde já havia perdido seu secretário-executivo João Gabbardo, que trabalhava na pasta havia mais de 40 anos e que foi exonerado no dia 22 de abril. Para o seu cargo, foi nomeado justamente o general Pazanello, que agora chefia o setor. Em 4 de maio, o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos, Denizar Vianna, também foi demitido.

“Até aqui, as pessoas responsáveis pela divulgação dos dados eram técnicas, que caíram para os militares entrarem. Eles podem dar um jeito de maquiar a cobertura do avanço da epidemia pelo Brasil”, afirma Gonçalves.

Militares – Desde a chegada de Eduardo Pazuello à Saúde cerca de 20 militares foram nomeados ao órgão. Em reunião com representantes de secretários de saúde de Estados e municípios, na quinta-feira, 21, o ministro interino disse que os militares devem ficar temporariamente no órgão.

“São militares da ativa. São pessoas preparadas para lidar com este tipo de crise. É temporário, e vou ter de substituí-los ao longo de 90 dias”, disse Pazuello.

A maioria ocupa cargos na Secretaria-Executiva, responsável pela gestão de contratos, pessoal, orçamento e dados do ministério. A médica e primeira-tenente Laura Appi, porém, recebeu cargo de diretora de programa na Secretaria de Atenção Primária – Saps, que lida com a estratégia de saúde da família e atendimento em postos de saúde, entre outras funções.

A ideia é que os cerca de 20 militares que ainda devem entrar na Saúde recebam também, a maioria, cargos na Secretaria-Executiva.

Pazuello estuda, no entanto, nomear um militar como Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos – SCTIE, posto responsável pelo estudo de novos produtos e pelo diálogo com a indústria farmacêutica. A pasta é estratégica para a análise, por exemplo, de evidências científicas sobre uso da cloroquina contra a Covid-19, tratamento defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, mas criticado por entidades médicas e científicas.

A SCTIE está sem comando desde esta sexta-feira, 21, quando foi oficializada a saída do médico Antonio Carlos Campos de Carvalho. Ele ficou menos de um mês no cargo e se opôs a nova orientação do ministério sobre uso da cloroquina para todos os pacientes da Covid-19.

Fonte: Com Brasil de Fato e Estadão
CNTS

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