CNTS sugere audiência para discutir violência contra trabalhadores da saúde
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde sugeriu ao deputado Paulo Fernando dos Santos – Paulão (PT-AL), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, a realização de audiência pública no âmbito do colegiado, para discutir a grave questão da violência moral e física sofrida pelos trabalhadores da saúde. Os casos de agressões vêm se repetindo e atingem trabalhadores desde a área administrativa até médicos, mas principalmente, profissionais da Enfermagem. Por isso, a CNTS vai sugerir a participação na audiência não apenas de entidades representantes da enfermagem, mas também de outras profissões da saúde.
Além das más condições de trabalho e de remuneração, a pesquisa Perfil da Enfermagem Brasileira aponta que apenas 30% desses trabalhadores afirmam se sentir seguros no local de trabalho. São várias as denúncias levadas às entidades sindicais e de classe representativas da categoria, que informam da violência sofrida por parte de pacientes e de seus familiares que, descontentes com as falhas na assistência, como a falta de profissionais, de equipamentos e de remédios, descontam sua revolta nos trabalhadores. A insegurança decorre, também, por conta do atendimento a pacientes dependentes químicos, com problemas psiquiátricos ou criminosos, às vezes perseguidos e atacados no interior dos hospitais.
Os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem representam cerca de 70% do quadro de profissionais e são responsáveis por 60% das ações de saúde em uma instituição hospitalar. Em número abaixo do estipulado como ideal pela Organização Mundial de Saúde, os profissionais da enfermagem são submetidos a uma jornada de trabalho exaustiva, desumana, que causa cansaço e estresse, diminui a produtividade e a qualidade de vida. E são os que ficam mais tempo junto dos doentes e seus familiares, ficando mais vulneráveis a agressões.
A pesquisa realizada pela ENSP/Fiocruz e o Cofen revela, ainda, que a categoria encontra dificuldades na hora de se inserir no mercado de trabalho; grande número atua em subjornadas e recebe subsalários; e 45%, em média, incluindo o setor público, o setor privado e o filantrópico, afirmam não ter, no local de trabalho, um setor para descanso. E ainda, 67% se sentem desgastados no ambiente de trabalho; e dois terços apresentam uma visão pessimista do futuro.
“Para nós, a segurança é uma questão de direito, de saúde e de qualidade no exercício profissional, sendo indispensável dispor de condições adequadas para o trabalho. Estudos apontam que o desgaste físico e psicológico pode expor o trabalhador e o usuário/cliente a erros de procedimentos, acidentes de trabalho e doenças ocupacionais”, destaca o secretário-geral da CNTS, Valdirlei Castagna.
“Dispor de ambiente de trabalho seguro é um direito de todo trabalhador. Porém, em muitas unidades de saúde do Estado de Alagoas, o profissional acaba exposto e chega ao ponto de ser agredido. Isso aconteceu com uma técnica de enfermagem que atua no Hospital Escola Portugal Ramalho, agredida por um paciente durante seu turno de trabalho”, denuncia o presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Estado de Alagoas – Sateal, Mário Jorge Filho.
A técnica de enfermagem viu uma confusão entre dois pacientes e tentou contornar a situação, mas ao retornar para o posto de enfermagem foi surpreendida por um dos pacientes envolvidos na confusão, que a agrediu utilizando uma cadeira, sofrendo lesões no antebraço e na mão direita, comprovadas em exame de corpo de delito. Profissionais relatam que casos de agressão como o vivido pela técnica acontecem com frequência.
“Esta profissional foi a primeira a ter coragem de denunciar o ocorrido, mas em conversa com outros profissionais, soubemos que esse tipo de situação é frequente. Vale lembrar que é um tipo de situação que acontece em várias unidades de saúde do Estado e não somente no hospital psiquiátrico Portugal Ramalho”, disse. O Sindicato solicitou reunião com a reitoria da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas, para tratar do caso e registrou boletim de ocorrência.
Para a Confederação, a garantia de segurança no local de trabalho trará benefícios para os profissionais, que terão melhores condições de trabalho e de vida; para a sociedade, que terá serviços de qualidade; e para os empresários do setor, que terão um quadro profissional saudável, exercendo suas atividades em ambiente condizente e necessário para a prestação dos serviços à sociedade. A CNTS espera que, da audiência pública saiam propostas a serem aprovadas pelo Congresso Nacional que garatam um trabalho seguro e de qualidade aos trabalhadores da saúde.