CNS debate comunicação livre em saúde
Alternativas para enfrentar o monopólio da comunicação brasileira estiveram entre os destaques da 1ª Conferência Nacional de Comunicação em Saúde promovida pelo Conselho Nacional de Saúde – CNS. O evento teve como objetivo discutir estratégias de democratização do acesso a informações sobre o SUS. O Brasil é o único país a ofertar o serviço para mais de 100 milhões de pessoas. Ao contrário do que muitos pensam, o sistema público de saúde vai para além do atendimento médico-hospitalar e abrange outras áreas, entre elas a vacinação, vigilância sanitária, assistência farmacêutica e serviço móvel de urgência, por exemplo. Esse foi o entendimento que os palestrantes passaram para centenas de jornalistas presentes no seminário.
O evento, com duração de dois dias, teve a participação de jornalistas que atuam na área da saúde, conselheiros e palestrantes com grande bagagem de experiência. O tema “Desafios de Comunicação em Saúde” foi intermediado pela conselheira nacional de saúde Francisca Rêgo e contou com a participação do ex-ministro de Saúde Alexandre Padilha, da gerente do Canal Saúde da Fiocruz, Márcia Corrêa e Castro, e da conselheira do CNS Carmen Lúcia Luiz.
Para os palestrantes, a própria concepção da saúde coletiva, como direito de todos e dever do Estado, é distorcida pela imprensa que detém o monopólio de comunicação. “A concepção da mídia privada é que saúde coletiva está relacionada somente às ações do Estado e não à saúde do indivíduo. Essa mídia monopolista não tem o menor compromisso com o que nós compreendemos como saúde pública, e menos ainda com o SUS”, avaliou Padilha.
O consenso é de que o enfrentamento deste monopólio é necessário para a construção de uma narrativa em defesa do SUS. Entre as alternativas estão a atuação de comunicadores nas redes sociais, assim como a qualificação das discussões entre os defensores do sistema. “É necessário fazer esse debate sabendo que todas as mazelas do SUS têm sido apropriadas como discurso para desmontar o sistema. Precisamos nos comunicar para que a população se sinta dona do SUS, sem contribuir com o discurso de desmonte”, avalia Márcia Corrêa.
A necessidade de os comunicadores da mídia alternativa criarem uma rede de difusão de conteúdo diversificado sobre o SUS foi a tônica dos debates sobre o papel da comunicação na defesa da informação em saúde. Segundo o editor-chefe da revista Radis, Rogério Lannes, o SUS nunca foi apoiado pela imprensa hegemônica. “A criação de uma rede alternativa de comunicadores seria fundamental para a população conhecer boas ações e serviços oferecidos pelo SUS”, destacou.
Já Adriane Cruz, assessora de Comunicação Social do Conass, destacou que “a avaliação sobre o SUS é pior entre os que não utilizam o sistema”. Para ela, essa é uma prova cabal de que a desinformação está na origem da abordagem preconceituosa da mídia hegemônica em relação ao SUS.
Palestrantes avaliaram que o controle social e a população devem atuar fortemente para cobrar do Estado o cumprimento do dever constitucional de investir no SUS e garantir o atendimento aos cidadãos.
Para a palestrante do Coletivo Intervozes, Marina Pitta, há uma necessidade urgente em discutir a perspectiva da disseminação dos conteúdos por meio da internet, com um olhar amplo e que contemple a diversidade das pessoas. “Com o Marco Civil da Internet aprovado em 2014, houve um grande avanço para o uso da internet no Brasil como, por exemplo, a neutralidade da rede. Isso significa que os provedores de acesso devem tratar todos os dados que circulam na Internet da mesma forma, sem distinção por conteúdo, origem, destino ou serviço”.
Inclusão do Sus nas diretrizes curriculares
A necessidade da inclusão do SUS na formação escolar e universitária também foi a constatação no debate. “Existem algumas iniciativas isoladas, mas levar o SUS para as salas de aula não é uma política de Estado”, afirmou a jornalista do Fórum Nacional para a Democratização da Comunicação – FNDC, Renata Mielli, ao defender a inclusão do ensino sobre o sistema público de saúde nas diretrizes curriculares nacionais. Segundo ela, esse desinteresse deve aumentar por conta do avanço de políticas neoliberais que priorizam a profissionalização em detrimento da formação cidadã.
A historiadora e pedagoga Conceição Oliveira, por sua vez, destacou que o desconhecimento sobre o amplo rol de ações e serviços do SUS está na origem da forma preconceituosa com que o sistema público de saúde é tratado pela mídia e pela própria população. “Ninguém defende o que não conhece”, disse.