6312
Foto: AdobeStock

Brasil pode ficar no fim da fila para receber vacina contra Covid-19

Saúde e Ciência

Por causa de brigas deflagradas pelo presidente Jair Bolsonaro, o Brasil sequer foi convidado para lançar iniciativa global que reúne países como França e Alemanha

O Brasil corre o risco de ficar no fim da fila para receber vacina contra a Covid-19 por uma iniciativa internacional visando acelerar a produção de vacina, tratamentos e testes contra a pandemia e assegurar um acesso equitativo.

Por causa de brigas deflagradas pelo presidente Jair Bolsonaro, o Brasil sequer foi convidado para lançar a “Colaboração Global para Acelerar o Desenvolvimento, Produção e Acesso Equitativo a diagnósticos, tratamento e vacina contra a Covid-19”, no fim de abril, reunindo países como França e Alemanha, organizações internacionais, fundações e empresas privadas.

Enquanto vários governos prometiam juntar forças contra o vírus, que já matou milhares de pessoas, Bolsonaro acusava a Organização Mundial de Saúde – OMS de incentivar masturbação de crianças, por exemplo.

No contexto dessa chamada “Act Accelerator”, a União Europeia conseguiu no espaço de algumas horas a promessa coletiva de 7,4 bilhões de euros para financiar desenvolvimento da vacina e outros instrumentos contra a pandemia, recentemente.

Agora, setores no Brasil na área de ciência e tecnologia se movimentam para convencer o governo a participar na ação global. Primeiro porque, apesar do discurso de acesso equitativo da iniciativa, o risco é de o país, se ficar fora do “’Act Accelerator”’, não ser prioritário para receber a vacina, não poder influenciar na questão de preços e enfrentar condições inferiores.

Por outro lado, se integrar a iniciativa global, o Brasil abre também oportunidade para a Fiocruz e indústria brasileira fazerem alguma etapa do processo produtivo. Será necessário um volume tão gigantesco de vacinas, que vai se precisar de muitas fábricas em torno do mundo para produzir.

A participação na iniciativa global é voluntária e a oportunidade para entrar continua aberta. Esse é o caso também de um movimento convergente que será lançada no fim do mês, a chamada “’Call to Action”. Trata-se de uma plataforma proposta pela Costa Rica para facilitar o acesso e uso de dados, conhecimento e propriedade intelectual de tecnologia para detectar, prevenir, controlar e tratar a pandemia.

Com a imagem bastante deteriorada, o Brasil é visto com espanto no exterior e ainda mais agora, com demissões de dois ministros da Saúde em um mês em plena pandemia, provocando questionamentos sobre o custo humano de orientações contraditórias.

Tampouco contribuiu a tensão que o Itamaraty construiu com a China nas últimas semanas, com o chanceler Ernesto Araújo insistindo sobre o risco do comunismo em diferentes eventos públicos ou privados. O resultado: dificuldades para ter acesso aos produtos de Pequim para lidar com a crise, como respiradores ou máscaras.

Nesta segunda e terça-feira ocorre a Assembleia Mundial da Saúde, que será virtual. O Brasil será representado pelo general Eduardo Pazuello, no cargo de ministro interino. Ele terá dois minutos para dar a mensagem brasileira.

Na assembleia, está prevista a aprovação de uma resolução da União Europeia, da qual o Brasil é um dos co-patrocinadores. Defende o acesso equitativo e a preço razoável para medicamentos e vacina contra a pandemia. E prevê uma investigação independente, na primeira oportunidade possível, sobre a atuação da OMS na reação à pandemia. Esta é uma exigência dos EUA, que querem com isso atacar a China e também o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom.

Os Estados Unidos não deverão romper o consenso sobre a resolução. Mas podem se dissociar de alguns parágrafos. Um, sobre educação sexual e reprodutiva; e outro, sobre flexibilidades para quebrar patente previstas no Acordo de Trips da Organização Mundial do Comércio – OMC.

Já a China, embora um alvo indireto, não vai querer assumir o preço político de aparecer como atrapalhando uma resolução que fala de facilitar acesso a medicamentos contra a pandemia.

Críticas a quem ignorou o vírus – Durante o evento de hoje, mensagens veladas ao Brasil foram lançadas. Secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, criticou governos que “ignoraram” alertas sobre a gravidade da pandemia e apontou que a economia só vai se recuperar quando vírus for vencido.

Guterres não citou nomes de países. Mas, desde a semana passada, o Brasil passou a estar no centro das atenções internacionais diante do número elevado de casos e mortes, além de uma sensação de desgoverno diante da mudança de ministros e a falta de uma estratégia.

O temor entre os técnicos é de que, sem um controle no Brasil, toda a América do Sul pode estar ameaçada. “Países diferentes têm seguido estratégias diferentes, às vezes contraditórias, e todos nós estamos pagando um preço pesado”, alertou Guterres.

“Muitos países têm ignorado as recomendações da Organização Mundial da Saúde. Como resultado, o vírus se espalhou pelo mundo e agora está se deslocando para o Sul global, onde seu impacto pode ser ainda mais devastador, e nós estamos arriscando mais picos e ondas”, indicou.

Chamando a crise de “maior desafio da nossa era”, Guterres apontou que a pandemia tem demonstrado “nossa fragilidade global”. “Apesar dos enormes avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas, um vírus microscópico nos colocou de joelhos”, disse.

“Ainda não sabemos como erradicar, tratar ou vacinar contra a Covid-19. Não sabemos quando conseguiremos fazer essas coisas”, admitiu.

Humildade – Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, pediu “humildade” por parte de líderes diante da pandemia. Segundo ele, todos querem reabrir suas economias. Mas, para que a recuperação seja real, tais relaxamentos precisam ser cautelosos.

“O vírus é fatal e rápido. Atua no escuro e se move como fogo. Precisamos tratar o vírus com respeito e atenção que ele merece”, defendeu. “Aqueles governos que se movem de forma precipitada correm o risco de minar a recuperação”, alertou.

“Temos um caminho longo a percorrer”, insistiu. Tedros ainda pediu que a ciência seja valorizada. “Quando mundo supera a ideologia, tudo é possível”, disse.

Para ele, os governos que tiveram êxito foram aqueles que adotaram um pacote de medidas, e não apenas isolamento social ou testes. “Não há uma bala de prata ou solução simples. Vai precisa de muito trabalho, fidelidade à ciência”, defendeu.

Já Guterres também deixou claro que governos não podem escolher entre salvar a economia e salvar vidas. “Apelamos para políticas para enfrentar as dimensões sociais e econômicas devastadoras da crise”, defendeu. Mas fez seu alerta. “Deixe-me ser claro: não há escolha entre lidar com o impacto na saúde e as consequências econômicas e sociais desta pandemia. Esta é uma falsa dicotomia. A menos que controlemos a propagação do vírus, a economia jamais se recuperará”, apontou.

Fonte: Com Valor Econômico e Coluna Jamil Chade
CNTS

2 opiniões sobre “Brasil pode ficar no fim da fila para receber vacina contra Covid-19

  • Noleis de Carvalho Filho

    Não cometemos as confusões e mesmo assim, injustamente seremos punidos, essa regra não deveria ser aplicada a nenhum país que tivesse por culpa de seu líder não ter bons laços com o resto do mundo. A Organização Mundial de Saúde deveria rever isso e entender que descriminação também não é uma forma legal de tratar pessoas. a culpa de ataques do presidente não pode ser atribuída ao povo, enfim, não foi a população brasileira que atacou a OMS e sim o cara que nos representa, infelizmente nós não podemos ser responsabilizado por estes desentendimento dia nossos líderes votados ou não por nós. Acho quê, o que deve prevalecer é a ética, o respeito e a seriedade da OMS.
    Sempre fomos gratos pelas informações nos fornecidas pela OMS e todos que estão engajados em nos proteger.
    Noleis de Carvalho Filho – Gaúcho

    • Guilhermre Barbosa Pereira

      Assim como você disse, ele nos REPRESENTA. Infelizmente, mas nos representa.

Deixe um comentário para Noleis de Carvalho Filho Cancelar resposta

Enviando seu comentário...
Houve um erro ao publicar seu comentário, por favor, tente novamente.
Por favor, confirme que você não é um robô.
Robô detectado. O comentário não pôde ser enviado.
Obrigado por seu comentário. Sua mensagem foi enviada para aprovação e estará disponível em breve.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *