Avaliação da CNI sobre jornada de trabalho deixa trabalhadores em polvorosa
A interpretação errada de uma declaração do presidente da Confederação Nacional da Indústria – CNI, Robson Andrade, em entrevista após encontro dom o presidente interino, Michel Temer, com cerca de 100 empresários do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação – MEI, vem preocupando os trabalhadores desde o fim da semana passada. A manchete divulgada pela Agência Brasil com o título “CNI defende carga de 80 horas semanais para trabalhador brasileiro”, notícia ampliada por diversos jornais, provoca calafrios mesmo depois de ser corrigida pela Agência, desta vez com o título “Presidente da CNI defende mudanças previdenciárias e nas leis trabalhistas”.
A nota Agência Brasil errou, publicada na sexta-feira, 8, pouco mais de uma hora depois da primeira notícia, pelo editor Armando Cardoso, explica que, “diferentemente do informado, o presidente da CNI não defendeu a jornada de 80 horas semanais para o país, mas mudanças na Previdência e nas leis trabalhistas”. E informa que Robson Andrade disse que, para o governo melhorar a situação do déficit fiscal, serão necessárias “mudanças duras” tanto na Previdência Social quanto nas leis trabalhistas.
O presidente da CNI citou como exemplo a França, onde as leis trabalhistas estão sendo discutidas, com a possibilidade de até 80 horas de trabalho semanal e até 12 horas diárias de trabalho. Segundo ele, para recuperar a competitividade. “O mundo é assim e temos de estar aberto para fazer essas mudanças. Ficamos ansiosos para que essas mudanças sejam apresentadas no menor tempo possível”, argumentou o empresário, citando os déficits do país de R$ 170 bilhões em 2016 e de R$ 139 bilhões para 2017 e a posição contrária a “qualquer aumento de imposto”.
Nota das centrais – Em meio ao disse-não-disse, as centrais CUT, UGT, CTB, CSB, Nova Central e Força Sindical assinaram nota conjunta em que afirmam que “propor jornada de 80 horas semanais é uma provocação ao trabalhador brasileiro” e reafirmam a bandeira pela redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salário.
“A proposta da jornada de 80 horas semanais vai na contramão de todos os estudos sobre o trabalho no Brasil. Pesquisas do Dieese, por exemplo, apontam que a adoção das 40 horas semanais poderá gerar mais de dois milhões de novos postos de trabalho. Na mesma linha, estudos do Ipea apontam que uma jornada de 12 horas semanais seria suficiente para produzir a mesma riqueza produzida com uma jornada legal de 44 horas. A elevação do nível de emprego e dos salários irá beneficiar todo o país e promover o crescimento da economia brasileira, fortalecendo o mercado interno, ampliando o consumo e estimulando os negócios no comércio e na indústria”.
Segundo as centrais, “a redução da jornada de trabalho sem redução de salário é indispensável para ampliar a oferta de emprego, na medida em que os ganhos de produtividade – fruto do desenvolvimento tecnológico e de formas mais avançadas de gerenciamento – requerem essa mudança. Qualquer medida contrária só ampliará a precarização e retirará direitos consagrados pela luta histórica da classe trabalhadora”.
As centrais sindicais conclamam a classe trabalhadora e o conjunto do povo brasileiro para que se mantenham alertas, vigilantes e mobilizados para a luta contra o retrocesso neoliberal neste difícil momento da vida nacional, marcada por uma brutal ofensiva dos capitalistas contra o direito do trabalho, a democracia e a soberania nacional.
A CNTS segue na mesma linha, de que é preciso estar atentos para evitar a aprovação de propostas prejudiciais aos trabalhadores, muitas delas que estavam engavetadas há anos e outras apresentadas nos últimos meses, com viés neoliberal, tendo o trabalhador como principal alvo para a promoção do ajuste fiscal e econômico para sanar o endividamento do país. (Com Agência Brasil e centrais)