Atlas traz ações que podem reduzir morte por câncer ligado ao trabalho
Saúde
Na publicação, o Ministério da Saúde identificou 900 agentes cancerígenos que, se evitados, podem reduzir o risco de adoecimento por câncer no ambiente laboral
“O câncer é a segunda principal causa de morte no Brasil. Sua ocorrência não se distribui de forma homogênea no país, e aproximadamente 60% dos casos ocorrem em estados e municípios de baixa e média rendas. Reconhece-se que uma série de exposições ocupacionais contribui para a carga global de câncer, pois possui impacto importante no potencial de anos de vida perdidos, no potencial de anos de trabalho perdidos e no tempo de vida. Estudos mais recentes atribuem a fatores ambientais cerca de 19% de todos os tipos de câncer. Dentre estes fatores, cerca de 900 agentes cancerígenos são identificados e avaliados pelo seu potencial carcinogênico no local de trabalho, sendo a exposição à maioria deles absolutamente evitável”.
Com o objetivo de fortalecer as ações de vigilância em saúde do trabalhador e ambiental por meio do aumento da evidência sobre a relação entre ocupação, ambiente e câncer no Brasil, com o aperfeiçoamento dos instrumentos e ferramentas disponíveis para o registro de informações e análise de situação de saúde, o Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, da Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde lançou o Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho no Brasil, durante a 2ª Jornada Nacional de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora, em Brasília.
A publicação, que é inédita, estima a doença ou evento relacionado à saúde que seria prevenido caso o fator de risco fosse eliminado. No mapeamento da mortalidade por cânceres relacionada ao trabalho, foram identificados os 900 agentes com alto potencial cancerígeno mais presentes nos ambientes de trabalho e que podem ser evitados com medidas preventivas, como o uso de materiais e equipamentos.
A epidemiologia tem avançado no entendimento e análise das relações causais entre câncer e exposição a substâncias presentes no ambiente de trabalho, porém, muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas. Por exemplo, a análise dos dados epidemiológicos indica uma subestimação significativa do câncer ocupacional, principalmente devido ao longo período de latência dessas doenças.
Este panorama nacional mapeou a mortalidade por cânceres que a literatura descreve como tendo relação com o trabalho, e explorou ainda a fração destes cânceres atribuível a estas circunstâncias de exposição ocupacional. É importante destacar que há uma distinção conceitual entre o câncer ocupacional – que possui uma relação direta com as condições de trabalho – com o câncer relacionado ao trabalho – resultado da exposição do trabalhador a substâncias no seu ambiente de trabalho que aumentam o risco de desenvolver um câncer.
A publicação relaciona 18 tipos de cânceres efetivamente ligados à atividade diária dos trabalhadores, seja pela ocorrência de um longo período de exposição a fatores ou condições de risco do ambiente de trabalho. “O Mesotelioma é uma doença totalmente causada pelo ambiente de trabalho já que é provocada pelo contato direto com o amianto, ou seja, a ação de prevenção é não ter esse contato com uma substância que já é proibida no país”, ressalta a coordenadora geral de Vigilância em Saúde Ambiental no Ministério da Saúde do Brasil, Daniela Buosi.
A não exposição aos agentes ainda impactaria na redução de até 37% das mortes por câncer por Leucemias; até 15% de mortes relacionadas a câncer por Tireoide; até 15,6 dos óbitos por câncer de Pulmão, Brônquios e Traqueia; e até 14,25% dos óbitos por Linfomas Não-Hodgkin.
“O Atlas e as análises que ele traz possibilita entender o comportamento desta doença, no tempo e no espaço, subsidiando a avaliação e o planejamento de políticas públicas de atenção integral à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, envolvendo desde a detecção precoce da doença até o acesso aos serviços de saúde, incluindo as ações de promoção e prevenção, com o aprimoramento da vigilância em saúde”, ressalta a coordenadora.
Ações de Vigilância – O mais recente projeto desenvolvido pelo Ministério da Saúde que busca eliminar fatores de risco evitáveis associados ao câncer, bem como o diagnóstico precoce, é o projeto Carex Brasil, uma base de dados que contém estimativas do número de trabalhadores ocupacionalmente expostos a cancerígenos por ramo de atividade, de trabalhadores empregados, dados e definições sobre os agentes cancerígenos, número de expostos por ocupação, detalhamento dos procedimentos metodológicos e bibliografia empregada. Esse projeto permite que matrizes de exposição sejam elaboradas para que a vigilância em saúde do trabalhador realize ações de prevenção nos ambientes de trabalho, incluindo inspeções, por exemplo.
Outra ação realizada pelo órgão são as Diretrizes para Diagnóstico e Tratamento de Intoxicações por Agrotóxicos. Uma série de publicações com diretrizes para exposição a agrotóxicos está sendo elaborada para prevenção da exposição e manejo de paciente intoxicado. Essas diretrizes abordam tanto exposições gerais como exposições aos agrotóxicos mais comercializados no Brasil, que é o maior mercado de agrotóxicos do mundo.
Além disso, o Ministério da Saúde vem realizando ações de vigilância de populações expostas a contaminantes químicos e a poluição atmosférica. Por meio dos mais de 213 Centros de Referência em Saúde do Trabalhador distribuídos pelo território brasileiro, são realizadas ações de vigilância, promoção e prevenção em saúde do trabalhador.