Após ignorar pandemia, Bolsonaro despreza vítimas da Covid-19
Brasil
Nem a morte de 261 mil brasileiros, 1.910 por dia, é capaz de extrair alguma humanidade do presidente Jair Bolsonaro. No pior momento da pandemia, o capitão voltou a ostentar desprezo pelo sofrimento alheio. “Chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, debochou ontem, 4, em evento em Goiás.
Nestes dois anos no poder, a arma do presidente da República é falar absurdos como cortina de fumaça para desviar atenção de escândalos. Na semana em que seu primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado por lavagem de dinheiro, comprou uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília, o capitão ultradireitista passa de todos os limites e choca ao insultar as vítimas da pandemia, a população e os profissionais de saúde que estão lutando para salvar vidas.
“Chega de frescura e de mimimi”. É isto que o presidente da República tem a dizer a um filho que viu a mãe falecer esperando um leito de UTI? É isto que o capitão tem a dizer aos profissionais de saúde que estão tentando salvar vidas? É isto que as famílias dos mais de mil profissionais que morreram na linha de frente da pandemia merecem ouvir? O combate a pandemia não se resolve apenas com hospitais, é preciso profissionais de saúde. Profissionais estes que estão chegando ao limite, tanto numérico quanto psicológico. Pois, após um ano de pandemia, eles estão vendo, impotentemente, pacientes morrerem sem ar e colegas perderam a luta para a Covid-19.
A economia, prioridade do presidente, pode ser resolvida. A morte não tem solução. Para fazer a economia girar, Bolsonaro sabota a única medida capaz de frear a tragédia, o isolamento social restritivo. “No que depender de mim, nunca teríamos lockdown. Nunca”, afirmou. Como bem afirma o médico pneumologista e presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, Fred Fernandes, errado não é o lockdown. “Errado é não garantir uma maneira das pessoas pagarem suas contas e se alimentarem durante o lockdown. Errado é não dar alívio fiscal para os negócios se manterem abertos após o lockdown”.
O país da “gripezinha”, como Bolsonaro chamou a doença, vai viver nas próximas duas semanas o pior momento da pandemia, com os registros de mortes por dia passando de 3 mil, segundo previsão do Ministério da Saúde.
O presidente da República não se limita a ser omisso. Tornou-se nocivo, ao atrapalhar deliberadamente os esforços de profissionais de saúde e de autoridades públicas empenhados em conter o avanço da pandemia de Covid-19. A fala enfática do senador Tasso Jeiressati (PSDB-CE), estupefato com o comportamento do presidente, ecoa pelo país: “É preciso parar esse cara”.