Ano novo com mais pobres
Brasil
O Brasil começou 2021 com uma triste estatística, são 40 milhões de pessoas na miséria. E sem o auxílio emergencial e com desemprego ainda muito alto, as famílias pobres poderão ter um ano ainda mais penoso.
O Brasil entra em 2021 com cerca de 40 milhões de pessoas na miséria, indisfarçável legado de quase um ano de pandemia e de dois anos de desgoverno Bolsonaro. O último balanço oficial, relativo a outubro, apontou 14,06 milhões de famílias em extrema pobreza, isto é, com renda de até R$ 89 por pessoa. Esse contingente, o maior desde 2014, correspondia a 39,99 milhões de pessoas. Os dados são do Cadastro Único para Programas Sociais – CadÚnico, elaborado pelo Ministério da Cidadania. As famílias nessa condição eram 13,50 milhões no começo de 2020, antes da pandemia, e 13,07 milhões em janeiro de 2019, início do mandato do presidente Jair Bolsonaro. A Covid-19 agravou um quadro já em deterioração.
As condições de emprego já eram muito ruins quando os primeiros casos de Covid-19 foram identificados no Brasil. No trimestre encerrado em fevereiro de 2020 estavam desocupados 12,3 milhões de trabalhadores, número correspondente a 11,6% da força de trabalho. A taxa foi pouco inferior à de um ano antes, de 12,4%.
Em 12 meses o novo governo havia sido incapaz de movimentar a economia e de expandir as oportunidades de ocupação. O primeiro ano se encerrou com crescimento econômico de apenas 1,6%, inferior ao de 2018.
As famílias em extrema pobreza identificadas em outubro eram 47% do total. Na faixa seguinte, com renda per capita de R$ 89,01 a R$ 178, havia 2,9 milhões, ou 10% das famílias. Na faixa seguinte, com renda de R$ 178,01 a meio salário mínimo, estavam 21%, ou 6,3 milhões. Na faixa seguinte, com ganho pessoal acima de meio salário mínimo, ainda se poderia encontrar um grande número em condições muito modestas.
O desastre econômico de 2020 e seus efeitos sociais foram atenuados pelo auxílio emergencial pago até o fim do ano. A partir de setembro esse auxílio foi reduzido de R$ 600 para R$ 300 por mês. Mas a ajuda, embora severamente diminuída, ainda foi preciosa para as famílias em pior situação.
Além da redução do auxílio emergencial, as famílias tiveram de enfrentar, no segundo semestre, um forte aumento da inflação, puxado principalmente pelos preços da comida, o item de maior peso no orçamento dos mais pobres. A disparada do custo dos alimentos foi mostrada claramente por todas as pesquisas.
Exemplo: uma alta de 12,69% acumulada em 12 meses foi reportada em dezembro pela Fundação Getúlio Vargas – FGV em seu Índice de Preços ao Consumidor – IPC. Esse indicador é parte do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). A alta poderia ter sido bem maior se tivesse ocorrido um repasse mais amplo dos aumentos ocorridos no atacado. No caso dos produtos agropecuários, o encarecimento em 12 meses chegou a 49,43%.
Esse tipo de pressão poderá ser menor em 2021, mas os preços da comida, segundo especialistas, devem continuar elevados. Além disso, pressões do mercado externo, reforçadas pelo câmbio, ainda poderão ocorrer. Poderão ser menos fortes que as verificadas em 2020, mas, se surgirem, poderão agravar seriamente as condições dos mais pobres.
A demanda internacional continuará aquecendo os preços da soja e de outros produtos, com a recuperação mais veloz dos grandes mercados. O governo deveria dar atenção a isso e examinar as previsões do Ministério da Agricultura quanto à produção de arroz, especialmente. É hora de pensar mais seriamente, por exemplo, numa estratégia de formação de estoques. Em uma década, os estoques públicos de alimentos tiveram uma redução de 96% na média anual, considerando seis diferentes tipos de grãos.
Sem o auxílio emergencial e com desemprego ainda muito alto, as famílias pobres – e muito pobres – poderão ter um ano muito penoso. A partir de agora, a grande maioria está por sua própria sorte. Desse total, 14,2 milhões voltam a receber o Bolsa Família – em média de R$ 192 mensais.
Mesmo com o alto número de brasileiros que passam fome e vivem na miséria, grande parte da população prefere ignorar a realidade do Brasil. O próprio presidente Jair Bolsonaro chegou a declarar que falar que passa fome no país é uma grande mentira. A declaração foi dada em julho de 2019. Passado mais de um ano, o presidente fez outra declaração polêmica. Disse que o país está quebrado e ele não pode fazer nada.
Enquanto isso, milhões de brasileiros aguardam famintos uma solução para saírem da miséria. Vale lembrar que o Brasil é um dos países com maior carga tributária no mundo e com menos retorno à população.