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‘A Vigilância em Saúde deve estar no cotidiano das pessoas’, dizem painelistas

A Vigilância em Saúde deve ocupar um papel central não apenas no Sistema Único de Saúde – SUS, mas no cotidiano das pessoas, com novas tecnologias, práticas e saberes, atuando para garantir não o lucro, mas a saúde para todos. Esta foi a tônica dos debates que tiveram como tema “O lugar da Vigilância em Saúde no SUS” e “Saberes, práticas, processos de trabalhos e tecnologias na Vigilância em Saúde”. A discussão compôs as atividades da 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde – CNVS.

O evento reúne 2 mil pessoas em Brasília, com o objetivo de construir a Política Nacional de Vigilância em Saúde. A representante do Movimento de Atingidos por Barragens – MAB, Letícia Oliveira Gomes de Faria, acredita que a falta de um olhar integral sobre a Vigilância em Saúde pode prejudicar, na prática, as populações de diferentes territórios.

Moradora de Mariana (MG), ela vivenciou o crime ambiental que resultou no rompimento da barragem da Samarco, controlada pelas multinacionais Vale e BHP Biliton, em novembro de 2015. De acordo com ela, o acesso à saúde é a principal reivindicação dos 1,2 milhões de atingidos ao longo da bacia do Rio Doce. “As empresas tentam esconder e inviabilizam essas demandas que adoecem a população”, afirma.

Letícia conta que um dos problemas é a mudança drástica nos hábitos alimentares dos atingidos, que antes plantavam e pescavam sua comida e, agora, compram em supermercados. “Há aumento no número de casos de diabetes e hipertensão”, afirma. Conforme a militante, os atingidos que permaneceram nas margens do rio sofrem com a contaminação da lama de rejeito nos 1430 hectares atingidos de quatro municípios da região. Segundo ela, quem planta no local ou consome animais que se alimentam por ali sofrem os efeitos na saúde.

Outro problema é o abastecimento de água, que já foi retomado para  1,2 milhão de pessoas, mas a população ainda não confia na qualidade do serviço. “Embora as empresas e o poder público atestem a qualidade da água, há relatos de dores de barriga, quedas de cabelo e alergias entre aqueles que a consomem”, alerta.

Os vetores de doenças também aumentaram. Segundo ela, antes do desastre, o município de Barra Longa, vizinho à Mariana, registrou três casos de dengue. Depois, foram 174. Em Mariana, a febre amarela, que estava desaparecida, já causou sete mortes. Letícia relata que muitas pessoas continuam sem saber quando e se voltarão para suas casas. Por isso os atingidos começam também a sofrer com problemas psicológicos. Aumentaram o consumo de álcool, drogas e o número de suicídios. “Nesses 2,5 anos, a Samarco já construiu duas novas barragens, mas nenhuma casa para os atingidos”, denunciou.

Integralidade já – A professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia – UFBA, Glória Teixeira, lembrou a trajetória do Movimento Sanitário até a conquista do SUS, apontado por ela como um patrimônio da sociedade brasileira que precisa ser defendido nesta conjuntura de retirada de direitos. “Nós estamos comemorando os 30 anos do SUS na nossa Constituição e ainda não alcançamos a integralidade”, afirmou.

O professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Norberto Rech reiterou que o papel da Vigilância em Saúde significa uma parte importante do direito à cidadania. E lembrou que, quando este direito é negligenciado, o resultado é doença e agravo. “A Vigilância em Saúde não está só no SUS. Está no cotidiano da cidadania”, afirmou.

Ele abordou também a questão das novas tecnologias que, a depender das opções políticas a serem feitas, podem servir a fins diversos, como no caso da Samarco, que as empregou para construir novas barragens e continuar operando, e não para reconstruir as casas dos atingidos. “Ter novas tecnologias não significa necessariamente acesso à Vigilância em Saúde de forma adequada para a cidadania”, ressaltou.

Segundo ele, muitas dessas novas tecnologias estão a serviço de um modo de produção gerador de desigualdades. “O sistema de saúde está permeado de tecnologias que só servem à acumulação e ao lucro sobre o adoecimento das pessoas. Os meios de produção devem estar a serviço das pessoas”, afirmou. (Ascom CNS)

CNTS

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