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Foto: Isac Nóbrega/PR

100 dias de desgoverno

Editorial

O governo de Jair Bolsonaro tem sido marcado por divergências, ameaças e paralisia do país. O brasileiro já presenciou quase tudo nos primeiros 100 dias de mandato do presidente ultradireitista, vexames em viagens internacionais, governo sob influência dos filhos, caos e paralisia nos ministérios, divergências entre Planalto e Congresso Nacional e até vídeo erótico publicado em rede social oficial. São crises atrás de crises criadas pelo próprio militar reformado. De concreto apresentado ao país foram propostas que prejudicam os trabalhadores e o movimento sindical.

Enquanto desgoverna, cresce o desemprego no país. No final do ano passado, havia 12,2 milhões de brasileiros sem trabalho. Agora, há 13,1 milhões desempregados. Isso é mais do que toda a população de Portugal. E quais foram as propostas apresentadas pelo governo para reduzir o desemprego? Nenhuma até agora. Durante a campanha, Bolsonaro defendeu que as leis trabalhistas no Brasil devem “beirar a informalidade” e que, se eleito, pretendia implementar no país “algo parecido com o que ocorre nos Estados Unidos” – onde empresas e funcionários negociam diretamente, sem a predominância de acordos coletivos entre patrões e sindicatos. Pelo menos nisso, ele está fazendo a lição de casa.

Durante o carnaval, o governo apresentou a Medida Provisória 873/2019 que acaba com a possibilidade de desconto em folha das contribuições sindicais pagas pelos trabalhadores. A medida ataca frontalmente as entidades representativas, dificultando e onerando o exercício da atividade sindical.

A reforma da Previdência, que segundo a equipe econômica faria o país crescer novamente, sacrifica os mais pobres, penaliza as mulheres e os trabalhadores rurais.  A PEC 6/2019, vendida como arma para acabar com os privilégios, não defende em nenhum momento o combate às sonegações das grandes empresas, que passam de R$ 2 trilhões. Enquanto isso, os militares, uma das categorias que mais oneram os cofres da Previdência pública, ganharão, caso o Projeto de Lei de Reestruturação das Forças Armadas seja aprovado, aumentos salariais, de gratificações e adicionais.

Como não tem votos necessários para aprovar a proposta, o governo liberou mais de R$ 1 bilhão em emendas e adotou a chantagem como estratégia pela reforma da Previdência. O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que se a proposta não for aprovada, os salários dos servidores públicos deixarão de ser pagos, bem como as aposentadorias. Guedes, aliás, até ameaçou deixar o cargo se a proposta não passar.

Enquanto alguns ministros ameaçam deixar o desgoverno, outros se agarram à cadeira, mesmo passando vergonha. São os casos dos ministros da Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, e o de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A pasta da Educação está um caos por conta de brigas internas de seguidores de Olavo de Carvalho e a incompetência do ministro. O esculacho maior aconteceu durante oitiva dos ministros no Congresso Nacional, para expor, a parlamentares desconfiados, o que afinal o governo pretende fazer com o mandato que obteve nas urnas. Vélez apelou até ao conterrâneo Pablo Escobar, o célebre traficante, para defender a militarização das escolas. Quanto ao ministro de Relações Exteriores, foi humilhado por historiadores nacionais e internacionais ao dizer que fascismo e nazismo eram de esquerda. Após tantas polêmicas, Velez foi demitido, sendo substituído por Abraham Weintraub, economista que nunca trabalhou com educação básica na vida, mas que foi aluno de Olavo de Carvalho e prega contra o “marxismo cultural”.

E o ministro “herói” de Bolsonaro, Sérgio Moro, quer poder total. O juiz está empenhado em fazer o nome que vai substituir Raquel Dodge na Procuradoria-Geral da República em setembro e aprovar seu pacote anticrime, que estimula violência policial em casos resultantes de ‘medo, surpresa ou violenta emoção’.

E o capitão? Celebrou o golpe de 1964 que instaurou ditadura militar no país, deixando centenas de mortos e desaparecidos, e cuja repressão lançou mão de artifícios como estupros e tortura.

Achou, por exemplo, que tudo bem manter acesa a polêmica institucional com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se arrasta há dias, em torno da inexistente articulação política de sua gestão. Tacha todos os políticos de corruptos, todos os jornalistas de comunistas.

Enquanto isso, o governo arde a céu aberto e Bolsonaro ainda indaga – em entrevista à TV Bandeirantes – o que tem feito de errado? Maia pede para o presidente governar, mas ele não sabe, desgoverna pelas redes sociais como se ainda estivesse em campanha. O presidente governa não por planejamento nem por projetos, não por estudos e cálculos bem fundamentados nem por amplos debates com a sociedade, mas sim pelos gritos de quem pode gritar nas redes sociais. Governa não para todos, mas apenas para a sua turma.

Entre meados de janeiro a meados de março, a avaliação positiva do governo caiu 15 pontos porcentuais. A confiança da população se deteriorou, passando de 62% para 49%.

A luz vermelha está acesa!

A Diretoria

CNTS

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