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Foto: Divulgação/Petrobras

Petrobras perde R$ 100 bilhões em valor de mercado

Brasil

Intervenção do presidente Bolsonaro na chefia da petrolífera é mal recebida por investidores, e ações da empresa caem mais de 20% em um único dia. Justiça dá 72 horas para presidente explicar decisão.

As ações da Petrobras caíram mais de 20% na segunda-feira, 22, reduzindo em R$ 71 bilhões o valor de mercado da empresa petrolífera, em meio a temores de que o governo federal intervenha nos preços dos combustíveis. Desde sexta-feira, quando o presidente Jair Bolsonaro interveio no comando da estatal, já são mais de R$ 100 bilhões de desvalorização.

Na sexta-feira, 19, Bolsonaro indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o lugar do presidente da petrolífera, Roberto Castello Branco, que ocupa a presidência desde janeiro de 2019 e foi proposto a Bolsonaro pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, firme defensor da linha liberal e da não intervenção do Estado em assuntos econômicos. A indicação feita por Bolsonaro ainda precisa ser referendada pelo Conselho de Administração da Petrobras, que se reúne nesta terça-feira.

A Justiça deu 72 horas para Bolsonaro explicar a sua intenção de substituir o presidente da petrolífera. A decisão foi tomada pelo juiz André Prado, da 7ª Vara Federal de Minas Gerais, em resposta a uma ação movida por dois advogados contra a troca no comando da petrolífera.

CVM investiga intervenção – Após o anúncio da troca, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM abriu uma investigação. Como a Petrobras é listada em Bolsa de Valores, uma decisão como essa deve ser comunicada ao público por meio de fato relevante, o que não aconteceu.

Economistas criticaram a decisão, pois ela pode afastar investidores das empresas brasileiras. Outros acusaram o governo de populismo e compararam a intervenção de Bolsonaro a medidas adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff.

Em meio à turbulência no mercado financeiro, a Bolsa de Valores de São Paulo registrou queda de 4,87% ontem.

Alta dos combustíveis – Bolsonaro começou a expressar seu descontentamento com a gestão da Petrobras há duas semanas, após aumentos nos preços dos combustíveis levarem os sindicatos dos caminhoneiros a ameaçarem com uma greve semelhante à realizada em maio de 2018, que paralisou o país durante onze dias, com grave impacto econômico.

A Petrobras argumentou que o aumento dos preços dos combustíveis, da ordem de 30% este ano, se deve ao comportamento dos mercados internacionais e à desvalorização do real frente ao dólar.

Bolsonaro não gostou das explicações. A gota d’água para o presidente foi o reajuste de quinta-feira, o quarto no ano, de 15,1% no diesel e de 10,2% na gasolina.

Assunto tradicionalmente militar – Diversos bancos de investimentos aconselham agora a venda das ações, pois a substituição do presidente faz prever que quem voltará a decidir os destinos da empresa são o governo brasileiro e as Forças Armadas ligadas a ele. Embora listada na bolsa, a Petrobras está sob controle estatal.

O fato desperta lembranças ruins. Sob os governos de esquerda dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016), a Petrobras já havia sido instrumentalizada. Com intervenções estatais em sua política de preços, os dirigentes tentaram conter a inflação, instrumentalizando a petroleira para uma política industrial na economia como um todo.

No fim das contas, a Petrobras estava envolvida em todos os setores da economia, e quase todos os projetos de investimento fracassaram. Além disso, mais tarde ela esteve no centro da Operação Lava Jato.

A partir de 2015, o conglomerado foi gradativamente sendo saneado. Porém há muito esse processo está paralisado: a Petrobras quer, por exemplo, se livrar da metade de suas refinarias, mas não encontra interessados. Diante da atual intervenção e do controle de preços, dificilmente algum conglomerado químico estará disposto a investir nessas refinarias.

Além disso, em meados de fevereiro o diretor de compliance Marcelo Zenkner anunciou que deixaria a Petrobras. Ao jornal Estado de S. Paulo, o principal opositor à corrupção da companhia explicou que o clima político mudara, desde o fim de 2020, e que a base para independência e autonomia estava comprometida.

Para Bolsonaro, o controle sobre a Petrobras é uma questão de sobrevivência política: ele precisa manter satisfeitos seus novos aliados do Centrão no Congresso e os militares, com cargos, orçamentos e outras regalias da Petrobras. Agora o presidente lhes coloca a semiestatal à disposição.

Também tem assim continuidade a militarização crescente da economia sob Bolsonaro. Para as Forças Armadas, a Petrobras é, tradicional e indiscutivelmente, assunto seu. Já antes da ditadura militar (1964-1985), a direção do conglomerado cabia exclusivamente a militares, entre eles o futuro presidente Ernesto Geisel. Apenas nos anos 90 eles perderam sua influência, em decorrência da privatização parcial da petroleira e sua listagem na bolsa de valores.

Fonte: Deutsche Welle Brasil
CNTS

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