Desigualdade de renda bate recorde no Brasil e não para de subir há 5 anos
Brasil
É o maior período de alta ininterrupta na concentração de renda já contabilizado no país; desemprego é o principal motivo
O Brasil vive o ciclo mais longo de aumento da desigualdade de sua história. Estudo do economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, mostra que a concentração de renda cresce no país há mais de cinco anos. Nos últimos 17 trimestres seguidos, o Índice Gini, dado que mede o nível de desigualdade social, vem crescendo continuamente. O indicador passou de 0,6003, no quarto trimestre de 2014, para 0,6291, no segundo trimestre deste ano. Quanto mais perto de 1,0, maior é a desigualdade e, quanto mais perto de zero, menor é a concentração de riqueza.
“Nem mesmo em 1989, que constituiu o nosso pico histórico de desigualdade brasileira houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos”, diz o estudo.
Segundo o estudo, a piora na desigualdade é resultado do aumento do desemprego no país, que ainda aflige 12 milhões de pessoas. “O principal fator que influencia o aumento da desigualdade é o desemprego, que, embora apresente sinais de alguma recuperação, ainda é grande no país”, ressalta o levantamento da FGV.
Impacto maior para jovens e na população carente – Outro indicador do avanço da desigualdade no país é a análise do comportamento dos rendimentos do trabalho de acordo com a faixa de renda. No período de 2014 a 2019, a renda da metade mais pobre da população caiu, a perda foi de 17,1%. No mesmo período, a renda da parcela que compreende o 1% mais rico avançou 10,11%.
Os mais pobres não foram os únicos que viram seu rendimento encolher no período. Os mais jovens, com idade de 20 a 24 anos, registraram queda de 17,7% no período. As pessoas sem instrução tiveram recuo de 15%.
“Uma das explicações para a queda na renda dos jovens é que eles não conseguem inserção no mercado de trabalho. Com a crise e as demissões de chefes de família, jovens passaram a procurar ainda mais emprego. Os resultados mostram que quem mais perdeu nesta crise foram as pessoas com pouca experiência ou com pouca instrução”, destaca Neri.
23,3 milhões na pobreza – Além da disparidade crescente de renda entre os trabalhadores, o número de pobres no Brasil aumentou. De acordo com o levantamento, entre 2015 e 2017, a população pobre brasileira aumentou de 8,3% para 11,1% do total. Assim, este contingente representa uma parcela de 23,3 milhões de pobres no Brasil, pessoas que vivem com menos de R$ 233 por mês.
Em dois anos, o Brasil passou a ter mais 6,2 milhões de pobres. Uma das causas para esta situação de aumento da pobreza, ressalta o diretor do FGV, é a falta de expansão de programas sociais. “Ao passo que o desemprego aumentou e mais pessoas perderam suas fontes de renda, as políticas públicas não conseguiram incorporar esse novo contingente de desassistidos. Um exemplo é o Bolsa Família. Foram feitas medidas para evitar fraudes e melhorar o cadastramento, mas a expansão do programa não foi suficiente para impedir o aumento significativo na pobreza do Brasil”.